O que a latência da internet tem a ver com o trânsito das nossas ruas e estradas?

Outro dia, a operadora que uso para me conectar à internet entrou em contato para dizer que iria aumentar a velocidade do nosso link, dobrando a sua capacidade sem cobrar nada por isso.

Também tenho experimentado progressivamente a melhora na usabilidade do 5G, proporcionando, quando há cobertura, um desempenho muito superior ao que temos no 4G.

Nós, usuários comuns de internet, temos nossa régua baseada na velocidade dos links e, em geral, não levamos em conta – ou não conhecemos – outros parâmetros que podem afetar a performance de nossa conexão, mesmo possuindo capacidades de ultra velocidades.

Velocidades e indicadores – Fonte: Speedtest

A latência também é um aspecto importante para a demanda de comunicação em tempo real que temos quando assistimos a um filme online, jogamos com amigos em rede e até mesmo em negócios, no caso de uso de reconhecimento de imagem ou realidade mista/aumentada.

Pensando como falar dessa característica das nossas infovias, logo fiz a associação com as nossas vias de tráfego de veículos ou rodovias. Vamos tentar desmistificar o que é latência fazendo essa comparação?

O que é latência?

A latência é o tempo que os pacotes de dados, por exemplo, fotos, vídeos e mensagens de texto, levam para chegar ao destino. Não confundam com os pacotes de dados dos seus planos de internet: aqui estamos falando em um fluxo de informações específico e no seu plano na quantidade total de informações trafegadas. Em outras palavras, é atraso dos pacotes na rede. Em comparação com o trânsito, é o tempo que levamos para ir de casa até o trabalho, por exemplo.

Latência – Fonte: bloghtinkbig

Voltando ao tecniquês, vários são os fatores que podem provocar o atraso no pacote – ou latência: atraso de propagação, serialização, protocolos de dados, comutação, roteamento, buffer de pacotes.

O atraso de propagação é um tema interessante para compararmos: pense nele como, por exemplo, a diferença entre uma pista de mão única esburacada e uma rodovia em perfeito estado com várias faixas de rodagem. Se elas forem entre o mesmo ponto A e o ponto B, provavelmente quem for pela rodovia vai chegar primeiro. O mesmo pode acontecer nas redes de informação: uma interface aérea com algum problema de cobertura e intensidade de sinal celular, tráfego de dados por redes que possuam muitas emendas em um cabo óptico.

Outro ponto importante a se pensar é o roteamento. A arquitetura da nossa rede mundial de computadores é bastante complexa e possui diversas conexões. Portanto, existem inúmeras rotas que podem ser seguidas entre o ponto A e o ponto B. Sabe aquele dia de trânsito em que você não usa o Waze e segue o caminho habitual, chegando atrasado? O mesmo pode ocorrer aqui.

A serialização é como se fosse o portão da garagem do seu prédio: sai um carro de cada vez. A comparação aqui é a quantidade de portões de garagem que o seu computador tem para enviar os dados e a outra ponta para receber.

Já a comutação eu vou fazer um esforço aqui e comparar com os semáforos onde eles abrem cada hora para uma direção encaminhando o trânsito. E por fim, o buffer, seria como ter uma área de espera para que veículos que vem em uma rodovia com muitas pistas possam aguardar a sua vez na reorganização de todos em uma via de pista simples.

E o jitter, para que serve?

Além da latência com todos esses prismas comparados ao trânsito acima, ainda temos o jitter, que é outra característica da comunicação de dados. Falamos de trânsito e não abordamos o principal problema, o congestionamento. De certa forma, podemos pensar no jitter como a resultante do congestionamento. Quando todos os pacotes chegam ao destino com o mesmo atraso, dentro dos limites aceitáveis pela aplicação, isso não afeta o desempenho. Mas quando os tempos de atraso entre eles começam a variar, o jitter se torna uma preocupação.

Jitter- Fonte: Clongeek

Voltando no ponto inicial do nosso artigo hoje, a demanda por conexões que entreguem baixa latência e jitter é cada vez maior pensando nos casos de uso que demandam processamento de dados em tempo real.

O 5G idealmente pode entregar latência zero e backbones de fibra óptica algo próximo disso. O ponto crucial está no projeto, construção e manutenção da integridade dessas redes. Não será com aquele emaranhado de cabos nos postes, rompimentos de fibra a cada obra na lateral de avenidas e rodovias ou projetos de RF para 5G com GAPs importantes que chegaremos a esse nível.

Para as aplicações proporcionarem uma ótima experiência de uso para seus clientes, precisamos de investimentos estratégicos em nossas infovias, concordam?

Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Diretor Especialista de Prática na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.

Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como LinkedIn Top Voice de Tecnologia & Inovação.

Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.

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Bibliografia