Essa tecnologia pode ser a solução de vários problemas que enfrentamos atualmente na implantação da Banda Larga.
FWA significa Fixed Wireless Access, que em uma tradução direta – que já começa a explicar como funciona, significa Acesso Fixo Sem Fio. Tivemos algumas tentativas no passado para implantar esse tipo de tecnologia no Brasil, porém não funcionou por alguns aspectos técnicos e de mercado.
Será que dessa vez vai?
Como funciona o FWA?
O sistema de acesso fixo sem fio depende de um CPE (Customer Premisses Equipment), ou seja, um equipamento que energizado e munido de um sim card de uma operadora, capta sinal das redes celulares (4G ou 5G) em substituição à conexão cabeada (coaxial ou fibra) que geralmente chega em nossas casas. Também pode substituir os acessos via rádio que ISPs usam em municípios do interior.
Compreendido como o backhaul via rede celular funciona – que é a parte externa, vem a parte interna que é muito parecida com os modems de banda larga que temos em casa atualmente.
Este CPE, repetirá o sinal internamente via rede cabeada ou sem fio. É nesse ponto que o Wi-Fi 6 entra para potencializar o uso dessa tecnologia. Aí pode vir a pergunta, se eu tenho uma boa cobertura de rede celular, pra que Wi-Fi? A resposta é simples. Nossos equipamentos domésticos não estão munidos de modems 4G/5G e sim Wi-Fi. Outro ponto é a gestão de assinantes e fatura que para uma residência pode ser mais complexo ter uma linha habilitada em cada device smart de uma casa ou escritório (tablets, notebooks, geladeiras, impressoras, lâmpadas, etc.) .
Escrevi um artigo recentemente sobre a relação entre Wi-Fi6 e o 5G:
Wi-Fi 6 é melhor que o 5G?
A figura abaixo ilustra um pouco esse conceito:
FWA doméstico – Fonte: Anritsu
Outra questão demonstrada pelo esquema acima é o acesso em 5G. Ele pode ser feito de duas maneiras:
- Rede 5G atual (3,5 GHz): Nessa faixa de frequências os CPEs usariam a mesma rede que os terminais móveis, o que não é um problema em termos de concorrência, pois o 5G suporta idealmente até 1 milhão de dispositivos por km2. Com taxas de transmissão de até 1Gbps endereça a demanda da maioria dos lares e pequenas / médias empresas e os casos de uso que temos atualmente.
- Rede 5G mmWave (~ 26 GHz): Essa faixa de frequências, que também teve espectro ofertado no lelião do 5G, também deve ter seu tempo de adoção. Apesar de sua performance ser maior permitindo, como diz a figura acima, tráfego em múltiplos Gbps, ao trabalhar em frequências tão altas, o alcance do sinal é limitado e além de ter que ter visada direta entre a torre e a antena do cliente, ela requer que tenhamos um dispositivo outdoor para captar o sinal. Nessa frequência a propagação é tão sensível a obstáculos que as folhas de uma árvore podem causar obstrução. Outro ponto são as aplicações que necessitam desse throughput e ainda não ganharam escala comercial.
Por que FWA não foi adotado em larga escala no Brasil?
Apesar das diversas tentativas das operadoras, não tivemos um ramp-up dessa tecnologia até a chegada do 5G. Eu mesmo usei alguns dispositivos em 3G e 4G que funcionavam como modems USB ou pequenos CPEs que repetiam o sinal em Wi-Fi 802.11g e 802.11n. Vejo duas questões que limitaram essa adoção:
- Tecnologia Celular: o 3G definitivamente não era uma tecnologia adequada para funcionar como banda larga, apesar dos primeiros testes terem sido feitos com ele. Já o 4G poderia até ajudar, porém as questões de densidade (equipamentos simultaneamente conectados em uma mesma antena) e largura de banda limitam o seu uso. Ambas ressalvas foram resolvidas no 5G.
- Modelo de negócio: Diferente da banda larga doméstica, que sempre foi vendida como uma assinatura sem limite, a banda larga celular sempre teve uma cota de volume de dados trafegados e um valor alto de fatura. Ainda estamos percebendo esse problema no 5G, mas, com os backhauls mais preparados para o crescimento do volume de tráfego, esse problema vem sendo endereçado pelas operadoras.
O intuito desse primeiro artigo sobre FWA era contextualizar a tecnologia. Fique ligado que no próximo vamos falar de como o FWA pode nos ajudar a expandir os acessos banda larga pelo país!
Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Diretor Especialista de Prática na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.
Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como LinkedIn Top Voice de Tecnologia & Inovação.
Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.
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