Como as operadoras regionais irão impulsionar o 5G Brasil afora?

Quando falamos aqui de 5G como nova tecnologia, leilão, cronograma de cobertura e outros pontos relevantes é natural pensarmos nas três grandes teles que arremataram diversos lotes no pregão. Porém há um grupo de empresas que muda esse panorama: as operadoras regionais.

No dia 5/11/21, uma manhã de sexta-feira, terminou o leilão que foi o segundo maior da história do Brasil, com uma arrecadação de R$ 7 bi e R$ 46,8 bi movimentados. O ágio médio foi de 237% – o que indica o nível da competitividade que tivemos. Maior do que esse, apenas o do pré-sal.

Todas as 15 empresas cadastradas deram lances, e seis novas operadoras estão entrando no mercado com outorgas em faixas regionais e nacionais: Winity Telecom, Brisanet, Consórcio 5G Sul, Neko, Fly Link, e Cloud2u. Na semana seguinte uma delas – a Fly Link – desistiu do lote regional que havia arrematado.

Panorama dos vencedores do leilão – Fonte: Valor.com

Especificamente no bloco destinado ao 5G – o de 3,5 GHz, temos uma faixa (3,6 – 3,68 GHz) destinada as operadoras regionais de 80 MHz, 20 MHz a menos que os blocos destinados às teles que arremataram os blocos nacionais. Nessa fase do leilão, o país foi dividido em 6 blocos que tiveram lances de 5 operadoras:

  • SP + Norte: Sercomtel
  • Nordeste: Brisanet
  • Centro Oeste: Brisanet
  • Sul: Consórcio 5G Sul
  • RJ, ES e MG: Cloud2u
  • Municípios específicos: Algar

Faixas de frequência destinadas ao 5G – Fonte: Arquivo pessoal

O cronograma e as obrigações das operadoras que arremataram os lotes regionais são diferentes das três teles que obtiveram os blocos nacionais. Veja na íntegra o que o edital do leilão mostra:

  • 7.5.1. Para os Lotes C1 a C8, até o dia 31 de dezembro de 2026, em pelo menos 30% (trinta por cento) dos municípios dispostos no ANEXO XIV-B;
  • 7.5.2. Para os Lotes C1 a C8, até o dia 31 de dezembro de 2027, em pelo menos 60% (sessenta por cento) dos municípios dispostos no ANEXO XIV-B;
  • 7.5.3. Para os Lotes C1 a C8, até o dia 31 de dezembro de 2028, em pelo menos 90% (noventa por cento) dos municípios dispostos no ANEXO XIV-B; e
  • 7.5.4. Para os Lotes C1 a C8, até o dia 31 de dezembro de 2029, em 100% (cem por cento) dos municípios dispostos no ANEXO XIV-B.
  • 7.5.5. Para os Lotes C1 a C8, até o dia 31 de dezembro de 2030, em 100% (cem por cento) das localidades dispostas no ANEXO XVIII-A que tenham sido associadas à autorização de uso de radiofrequências em decorrência do procedimento de conversão de que trata o item 8.8 deste Edital.

Portanto o cronograma de obrigações dessas operadoras tem seu primeiro marco somente em dezembro de 2026. Isso acontece pois elas irão construir redes regionais iniciando do zero em seus blocos de concessão. Apesar da data parecer distante, assim como está acontecendo

Até o quantitativo mínimo de Estações Rádio Base – ERB que deverá ser instalado para o atendimento do compromisso é diferente:

  • 7.5.6.1. Cinco estações, para municípios com população entre 30 (trinta) mil habitantes e 25.750 (vinte e cinco mil, setecentos e cinquenta) habitantes;
  • 7.5.6.2. Quatro estações, para municípios com população entre 25.750 (vinte e cinco mil e setecentos e cinquenta) habitantes e 20 (vinte) mil habitantes;
  • 7.5.6.3. Três estações, para municípios com população entre 20 (vinte) mil habitantes e 10 (dez) mil habitantes;
  • 7.5.6.4. Duas estações, para municípios com população entre 10 (dez) mil habitantes e 5 (cinco) mil habitantes;
  • 7.5.6.5. Uma estação, para municípios com população inferior a 5 (cinco) mil habitantes.

Veja que para esses blocos as obrigações são bem diferentes e ao contrário do que dizem os requisitos dos blocos nacionais, aqui temos foco nas cidades com menos de 30 mil habitantes.

Para as operadoras regionais, um ponto chave será o roaming. Tanto ao receber clientes de operadoras maiores ou de outras regiões em suas cidades quanto ao permitir que os seus terminais façam o roaming fora da sua área de cobertura. Estabelecer um fair price para esse deslocamento fora das redes de origem será um dos fatores relevantes para o sucesso dos negócios.

Outro ponto que pode ser amplamente discutido é o subsídio via Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) para impulsionar a ampliação da cobertura em regiões onde o impacto social e econômico ajude a população que vive em áreas remotas, carentes de conexão. Aqui também pode entrar a conectividade para o Agro, um grande motor da economia do nosso país e que cada vez mais demanda tecnologia.

Já conhecia o papel das operadoras regionais? Ficaria feliz em discutir, te ajudar pelos comentários ou numa mensagem de Inbox.

Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Associate Partner na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas. 

Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia.

Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos incluindo o cicloturismo.

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