É impressionante como a história do telégrafo, que chegou ao Brasil em 1852, está tão conectada com a história do nosso país na segunda metade do século XIX!
No início, apenas 8 anos da primeira implantação do telégrafo nos EUA, o primeiro projeto no Rio de Janeiro foi implantado ligando o Palácio de São Cristóvão ao Quartel-general no Campo da Aclamação (Campo de Santana). O objetivo nessa época era combater o tráfico de escravos, que no mesmo ano já tinha sido reduzido drasticamente.
Organicamente foi crescendo na capital do Império, conectou a residência de verão de D. Pedro II em Petrópolis-RJ e anos depois, em 1866, chegou até o front da Guerra do Paraguai, 2000 km distantes do Rio de Janeiro.
O artigo 13 cabos submarinos que conectam o Brasil com o Mundo: como estamos e quais são os planos de expansão?, mostra um pouco mais da história desse primeiro cabo submarino implantado na Baia de Guanabara.
Já o artigo Por que o telégrafo foi nossa primeira arma de guerra tecnológica?, fala da construção desse cabo até o extremo oeste brasileiro conectando o exército com o imperador.
Porém, além de ser uma arma tecnológica, rapidamente se entendeu o outro papel do telégrafo: o de conectar geografias remotas por meio da informação. E foi um brasileiro, pioneiro em diversas áreas, que tomou para si a missão de estender uma linha telegráfica entre o Brasil e Portugal: Irineu Evangelista de Souza – O Barão de Mauá.
Quem foi Barão de Mauá?
Gaúcho, de Arroio Grande e descendente de açorianos, Irineu Evangelista de Souza se mudou para a capital do império ainda criança aos 9 anos. Autodidata e perspicaz nos negócios, desenvolveu diversos empreendimentos, entre eles: companhias de iluminação a gás, saneamento, infraestrutura (estradas, ferrovias) bancos, transportes marítimos e outros empreendimentos industriais.
Falar de sua história daria diversos artigos. Porém, vamos nos ater ao grande destaque desse aqui: um cabo submarino que cruzava o atlântico até a Europa.
Um pouco de história
A primeira ligação transatlântica com uma linha telegráfica submarina, foi entre os EUA e a Inglaterra e aconteceu em 1858, mas ela durou somente 3 semanas. Como cada letra demorava até 2 minutos para ser transmitida, aumentaram a tensão elétrica no cabo e ele se deteriorou rapidamente. Só em 1866 que um novo cabo foi lançado e a questão da velocidade já equacionada passando a 8 palavras por minuto.
Aqui no Brasil, desde o início do uso do telégrafo já se pensava em ligar o Brasil a Portugal. Diversas tentativas não obtiveram sucesso e em 16/08/1872, através do Decreto n.º 5058, assinado pelo Visconde de Itaúna, foi outorgado ao Barão de Mauá o direito de lançar o cabo transatlântico. Veja que interessante o primeiro parágrafo do decreto:
Attendendo á conveniencia de se estabelecer, no mais breve prazo, communicação telegraphica entre o Brasil o continente européo, e mostrando-se o Barão de Mauá habilitado para realisar esse serviço com exigencias menores e a maior celeridade possivel, mediante accôrdo com as companhias telegraphicas inglezas, ás quaes o governo portuguez concedeu preferencia para ligar aquelle reino com suas possessões atlanticas ao territorio do Brasil: Hei por bem Conceder ao referido Barão de Mauá autorização para estabelecer e explorar um cabo telegraphico submarino entre o Imperio do Brasil o reino de Portugal, tocando nas possessões portuguezas, conforme as concessões que fizer ou tenha feito governo de S. M. Fidelissima, e sob as clausulas que com este baixam, assignadas pelo Visconde de Itaúna, do Meu Conselho, Senador do Imperio, Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio Obras Publicas, que assim o tenha entendido e faça executar. Palacio do Rio de Janeiro, em dezaseis, de Agosto de mil oitocentos setenta e dous, quinquagesimo primeiro da Independencia e do Imperio. Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador. Visconde de Itaúna.
O Barão de Mauá obteve, com a autorização de lançamento do cabo, o direito de explorar esse serviço com exclusividade por 20 anos. Além de Mauá e do Governo Brasileiro, a British Eastern Telegraph Company também participou desse projeto.
Leia aqui o decreto na íntegra que traz muita informação histórica e também mostra como eram as negociações naquela época.
O trajeto planejado para esse cabo era conectar Recife até Carcavelos em Portugal, passando pelos territórios portugueses de Cabo Verde e Ilha da Madeira. Portanto, no Brasil deveríamos também construir a conexão entre Recife e Rio de Janeiro, que ainda passou por Salvador e teve uma extensão até Belém-PA.
As Inaugurações
Em setembro de 1873 foi concluído o lançamento do cabo e a conexão entre Recife e Belém. Já em 23 de dezembro do mesmo ano, tivemos a conclusão da ligação entre o Rio de Janeiro, e Recife, passando por Salvador. Dom Pedro II, que assitia a conclusão da conexão do cabo a uma estação telegráfica na praia de Copacabana, enviou o seguinte cabograma aos presidentes das três províncias recém conectadas a capital do império:
“Já se acha o cabo submarino no território da capital do Brasil.A eletricidade começa a ligar as cidades mais importantes deste Império, como o patriotismo reúne todos os brasileiros no mesmo empenho pela prosperidade de nossa majestosa pátria. O Imperador saúda, pois, a Bahia, Pernambuco e Pará por tão fausto acontecimento, na qualidade de seu primeiro compatriota e sincero amigo. Até aos bons anos de 1874.”
Neste dia o Barão de Mauá foi elevado a Visconde.
Já no ano seguinte, em 1874, o dia 22 de junho foi a data mais marcante para esse nosso relato histórico. Assim que foi concluída a ligação entre Brasil e Portugal, o imperador foi avisado e enviou mensagens a alguns destinatários. Elas foram endereçadas ao presidente da Brazilian Submarine Telegraph Company e aos monarcas de Portugal, Inglaterra e Áustria.
Se você quiser saber mais sobre a expansão do telégrafo no Brasil, recomendo a leitura do artigo Por que Marechal Rondon é o Pai das Telecomunicações Brasileiras?
O telégrafo realmente mudou a nossa forma de comunicar, literalmente encurtando o tempo e as distâncias. O cabo do Barão de Mauá esteve em operação por 99 anos até 1973!
Você conhecia esse episódio da história das comunicações no Brasil? Vamos discutir aqui nos comentários ou em uma mensagem privada!
Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Diretor Especialista de Prática na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.
Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como LinkedIn Top Voice de Tecnologia & Inovação.
Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.
Artigos relacionados:
-
10 Dicas para um bom relacionamento entre o TI e os clientes
-
Como tirar o papel e a prancheta das linhas de produção industriais?
-
Qual foi o marco celebrado na primeira transmissão oficial de rádio no Brasil?
-
Do telégrafo à TV: os 100 primeiros anos das telecomunicações no Brasil
-
Qual a relação entre a invenção do rádio e o Cristo Redentor?
-
Como foi minha primeira jornada de transformação digital no ano 2000?
-
Por que o telégrafo foi nossa primeira arma de guerra tecnológica?
-
Como o Brasil foi o segundo país do mundo a instalar telefones?
-
Por que Marechal Rondon é o Pai das Telecomunicações Brasileiras?
-
O que uma funerária tem a ver com a história das centrais telefônicas?