Qual o tamanho do desafio de conectividade no Agro?

Alguns dados sobre esse segmento me chamam bastante a atenção. Segundo o último Censo Agropecuário, divulgado em 2020, o Brasil possui mais de 5 milhões de estabelecimentos rurais que ocupam cerca de 41% do território do país.

Isso significa falar que dos 8,5 milhões de km² do território nacional, cerca de 3,5 estão dentro de propriedades rurais, sendo divididas entre pastagens, lavouras ou áreas preservadas de mata.

Em alguns fóruns de discussão sobre Agro e Tecnologia que acompanho, as conversas giram em torno da disponibilidade de dados e conectividade no campo. A maior dificuldade apontada não tem sido a questão da coleta dos dados e sim como conectar as máquinas e os sensores e atuadores, os geradores de dados, com as aplicações que vão tratá-los.

Pensando em conectividade de rede pública, hoje temos mais de 22 mil km de estradas cobertas pelo 4G. Como resultado do leilão de frequências para o 5G, realizado em novembro de 2021, foram estabelecidas obrigações de coberturas não só em 5G, como também em 4G.

Até 2029, estima-se que mais de 1.185 trechos de rodovia, somando mais 31 mil km, devem receber cobertura de rede celular. As sedes dos 5580 municípios devem receber no mínimo a cobertura de uma prestadora, caso tenham sua população menor que 30 mil habitantes.

Também como resultado do leilão das frequências de 26 GHz, foram reservados cerca de R$ 3,1 bi para a cobertura de escolas com redes celulares.

O que escolas, estradas e sedes municipais têm a ver com a cobertura nas propriedades rurais? Uma parte desses estabelecimentos está à beira dessas estradas, perto de escolas e em alguns casos das sedes municipais.

Esses esforços endereçam uma parte do problema. Porém, a maioria das propriedades seguirá tendo dificuldade na conexão e muitos deverão buscar por conta própria como conectar suas propriedades.

Além das tradicionais redes públicas celulares e dos serviços de conectividade via rádio de ISPs (Internet Service Providers) regionais, existem alternativas para cobertura de propriedades rurais:

  • Redes privativas 4G/5G;
  • Redes via Satélite:
  • VSAT geoestacionários;
  • Órbita baixa – Starlink Tesla;
  • Constelações para IoT – Sateliot;
  • Enlaces de rádio;
  • Links cabeados terrestres.

Há uma série de fatores a serem considerados na hora da escolha da melhor conectividade para uma propriedade rural:

  • custo
  • latência
  • quantidade de mensagens por dia
  • equilíbrio entre uplink e downlink
  • velocidade
  • cobertura
  • espectro aberto vs regulamentado
  • rede pública vs privada
  • segurança da informação
  • relevo e obstáculos na propagação do sinal
  • disponibilidade de equipamentos
  • consumo de energia e/ou bateria
  • complexidade de instalação
  • gestão da conectividade e dos endpoints
  • processamento em nuvem ou na borda
  • retorno do investimento

Qual a solução ideal? Fazer um estudo de cada caso é essencial para apontar a tecnologia e conectividade corretas. São muitos os parâmetros a serem analisados e a evolução tecnológica muda esse mapa de tempos em tempos. Portanto, não existe uma solução de conectividade que atenda todas as situações, concorda?

Nos próximos artigos, desmistificaremos alguns desses conceitos. Fique ligado!

Publicado originalmente em Agrofy News

Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Diretor Especialista de Prática na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas. 

Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como LinkedIn Top Voice de Tecnologia & Inovação. 

Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.

Artigos relacionados: