Qual o futuro do Wi-Fi vs. 5G? – Parte 2

Deixamos para trás a polarização entre Wi-Fi e 5G que pode parecer existir discutindo a coexistência desses dois padrões no artigo anterior.

Nos infinitos casos de uso que a disponibilidade dessas tecnologias poderá nos apoiar na criação e aplicação, características bastante peculiares de cada uso, nível de segurança exigido, ambiente ou disponibilidade da tecnologia serão chave para a escolha da mais adequada, ou até dessa dupla dinâmica ao mesmo tempo.

Quando falamos cases de negócio usando 5G existe uma variável extra que a tecnologia de quinta geração aperfeiçoou algo que apareceu com o 4G que são as redes privadas. Então aqui nesse artigo, explorarei esse tipo de arquitetura de rede sempre que falarmos de uma aplicação industrial e de cobertura restrita a uma área pré-definida, diferente das operadoras púbicas de telefonia celular.

Sem mais delongas, vamos discutir algumas características que jogam a favor do Wi-Fi, do 5G ou de ambas.

Facilidade de Implantação

Wi-Fi é uma tecnologia bastante difundida em nossas residências e negócios. Uma boa parte das pessoas com o famoso “Next, Next, Finish” consegue colocar uma rede Wi-Fi com um ou alguns poucos access points para funcionar. Aqui na minha rede de casa, por conhecer sobre a tecnologia, tentei explorar as configurações da rede e foi mais difícil encontrar como visualizá-las do que alterar algum parâmetro específico.

Falando em operação, a maioria das redes dificilmente é reconfigurada ao longo da sua vida. Poucos buscam de tempos em tempos analisar o espectro de tempos em tempos para verificar se mudando de canal pode melhorar a performance, mitigando alguma interferência de redes vizinhas.

Em uma escala de rede maior, encontrada nas organizações, essa instalação é mais complexa, pois estamos falando de uma quantidade grande de access points em ambientes muitas vezes hostis com variações de temperatura, umidade, barreiras para propagação do sinal como paredes e equipamentos, e a coexistência com ruídos de rádio frequência gerados por outros equipamentos. São desafios muitas vezes complexos porém possíveis de serem endereçados por mais pessoas devido a longevidade da tecnologia nesses ambientes.

Com o 5G se pensarmos em uma rede pública, a implantação pode ser simples se a cobertura permitir, ficando pendente a disponibilização de um sim card e um plano de dados de alguma operadora.

Já em redes privadas 5G – arquitetura ainda nos seus estágios iniciais de implantação, habilitar uma rede pode não ser uma tarefa tão fácil pois algumas tarefas devem ser cumpridas: solicitar direito de uso do espectro e fazer um planejamento de RF (Radio Frequências) aliada a instalação de uma rede celular que necessita de um profissional com skills mais específicos do que um recurso de W-Fi.

Uma rede privada 5G tem uma série de benefícios e se você quiser saber mais sobre o tema, recomendo a leitura desses artigos:

Espectro licenciado ou aberto?

Apesar de parecer que a facilidade de implantação decreta a vitória nesse ponto do Wi-Fi, ele chama a atenção para uma característica que o 5G pode ter uma vantagem tanto no caso das redes públicas das operadoras quanto em privadas: o espectro licenciado.

Um terminal operando em uma rede 5G, não enfrentará interferências de outras redes irradiando sinal na mesma faixa de frequência, o que garante uma performance de rede melhor. Em contrapartida, o Wi-Fi opera em faixas de frequência abertas (2,4 GHz, 5GHz e 6GHz) onde qualquer pessoa – devido a facilidade de instalação que comentamos acima – consegue habilitar uma rede na mesma faixa de frequência e canais de uma que já estiver operando. Por isso aqui com o Wi-Fi, a operação dessa rede requer a supervisão constante da qualidade do RF.

Imagine a cena: um operário de uma linha de produção industrial que usa equipamentos com Wi-Fi para realizar as suas tarefas, entra na linha com o seu celular no bolso e a função de roteador da sua internet habilitada. Há uma boa chance desse “roteador wireless” afetar a performance da rede industrial e a saga para descobrir a origem do problema pode ser bem complexa.

Cobertura

Uma das belezas dessa arquitetura de coexistência entre o Wi-Fi e o 5G é a complementaridade na cobertura. Enquanto o Wi-Fi funciona muito bem em áreas menores, dentro de instalações confinadas, com a colaboração de diversas antenas para cobrir uma determinada área, o 5G privado pode cobrir um campus inteiro de uma unidade fabril e as redes púbicas 5G numa abrangência nacional:

Diferentes coberturas de Wi-Fi e 5G – Fonte: Cisco

Casos de uso específicos

1 – Roaming e equipamentos em movimento rápido

Você já ouviu falar de roaming em redes sem fio? Em um passado não tão remoto assim quando nos deslocávamos com os nossos celulares para outros estados, ao atender ou realizar ligações pagávamos roaming e isso ainda permanece quando viajamos para fora do país.

As redes celulares foram concebidas já na sua origem para permitir essa mobilidade entre suas células de cobertura. Passamos o dia todo mudando de área de cobertura de antenas, muitas vezes até dentro de um carro em alta velocidade. Já o Wi-Fi foi concebido como hotspots e o roaming entre antenas foi uma evolução da tecnologia, funciona porém não tem a performance das redes celulares desde o 2G.

2 – Confiabilidade na entrega de pacotes

Em termos de latência, tempo / atraso na entrega de pacotes de informação, apesar do Wi-Fi ter sido bastante aperfeiçoado nos padrões 6/6E, o 5G pode entregar latências de 1ms habilitando por exemplo o uso de veículos autônomos. Porém vale o disclaimer que hoje são raras as aplicações que tem essa baixíssima latência como requisito.

Veículos autônomos e 5G – Fonte: Medium

3 – Densidade: uso de endpoints simultâneos em uma mesma área de cobertura

Tanto no Wi-Fi 6/6E quanto no 5G tivemos uma sensível evolução nessa característica. Idealmente no 5G podemos ter idealmente 1 milhão de equipamentos por km2, já no Wi-Fi qualquer projeto de alta densidade necessitará muitas antenas com abertura de feixe mais compacta para se concretizar.

Cobertura de alta densidade em estádios – Fonte: Stream1Wireless

A conclusão desse artigo é bastante semelhante a parte 1: a necessidade apontada por cada conjunto de casos de uso ditará qual rede devemos usar: 5G, Wi-Fi ou ambas.

Esse artigo reforça que devemos continuar avaliando as aplicações práticas da tecnologia e dimensionando-as para as redes que se adequem mais a cada caso de uso. Você tem alguma dúvida sobre Wi-Fi e 5G, ficaria feliz em te ajudar nos comentários ou um Inbox.

Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Associate Partner na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas. 

Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia.

Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos incluindo o cicloturismo.

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Bibliografia:

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