O primeiro artigo do ano é um tributo àquele que, para mim, foi o primeiro veículo que realmente democratizou as comunicações no Brasil. É certo que tivemos a chegada no Brasil do telégrafo em 1852 e o telefone logo em seguida, em 1877. Mas esses dois meios de comunicação eram um privilégio das elites e assim permaneceram.
Tal limitação veio do alto custo de implantação. Tanto o telefone quanto o telégrafo dependiam de redes cabeadas para transmissão de dados, muita energia elétrica e aparelhos robustos para transmissão e recepção da voz e do código morse.
Se quiser conhecer um pouco mais sobre a história desses equipamentos, veja dois artigos que escrevi sobre eles:
- Por que o telégrafo foi nossa primeira arma de guerra tecnológica?
- Como o Brasil foi o segundo país do mundo a instalar telefones?
Para que as comunicações, e por consequência as informações, chegassem a mais pessoas, era preciso que tivéssemos um meio de comunicação mais barato e que não dependesse de quilômetros de cabos de cobre para chegar até as pessoas.
Talvez um pouco inspirado por esses desafios, grandes inventores perseguiram o objetivo de criar um dispositivo sem fio, que a baixa frequência de transmissão poderia irradiar sinais a centenas de quilômetros de distância.
Grandes nomes ajudaram a escrever a história da criação do rádio, incluindo o padre brasileiro Landel de Moura. Porém, foi o invento de Guglielmo Marconi, que apesar de não admitir, integrou soluções de Nikola Tesla, Heinrich Hertz e Édouard Branly criando assim o rádio que conhecemos hoje. Também escrevi um artigo contando essa história e a relação de Marconi com o Brasil e o nosso cristo redentor:
Inspirado por dois importantes marcos na história do Brasil, em 1922 e 1923, que estão completando 100 anos, resolvi avançar um pouco mais na história desse que até a chegada do telefone celular foi o dispositivo de comunicações mais relevante na transmissão de informações e entretenimento.
Poucos meses atrás comemoramos o bicentenário da independência do Brasil com D. Pedro I, o rio Ipiranga e os demais detalhes históricos daquele momento. 100 anos atrás, em 7 de setembro de 1922, a comemoração do primeiro centenário, foi marcada pela primeira transmissão de rádio no Brasil.
Uma antena foi instalada no morro do corcovado – ainda sem o Cristo Redentor, construído entre 1926 e 1931, transmitiu o discurso de abertura da exposição em homenagem ao centenário da independência do Brasil, proferido pelo então presidente Epitácio Pessoa, acompanhado pelos Reis da Bélgica. Há informações que ainda neste evento, os ouvintes também acompanharam a ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes.
Primeira Transmissão em 1922 – Fonte: O Globo
A degustação da tecnologia deve ter impressionado muitas pessoas naquela época, pois o sinal da rádio carioca chegou a receptores instalados em Niterói, Petrópolis e até São Paulo já na sua primeira transmissão.
Tudo isso só foi possível graças a dois grandes brasileiros: Edgar Roquette-Pinto, um médico que pesquisava a radioeletricidade e Henrique Morize um francês naturalizado brasileiro que fomentou os primeiros conceitos de física experimental no Brasil, – ambos membros da Academia Brasileira de Ciências, sendo Morize o seu primeiro presidente.
Deixo aqui uma ressalva para o dia 6 de abril de 1919, pois nesta data foi feita uma primeira transmissão experimental de voz e sons pela rádio clube de Recife de Oscar Moreira e um grupo de amigos. Apesar de ter sido a precursora, a primeira transmissão oficial é a de 1922.
Este foi o pontapé oficial para a radiodifusão no Brasil e apenas o primeiro passo de Roquette-Pinto e Morize. Oficialmente a Rádio sociedade do Rio de Janeiro começou a operar no dia 30 de abril de 1923. Ela usava um transmissor, doado pela Casa Pekan, de Buenos Aires, instalado na Escola Politécnica, que ficava no Rio de Janeiro – a capital federal.
Roquette-Pinto – Fonte: Galileu
Recomendo ouvir o áudio de Roquette-Pinto neste link contando ele mesmo a história daquele 7 de setembro de 1922.
A partir daí muitas rádios foram fundadas – história para outro artigo. A Rádio Sociedade do Rio de Janeiro existe até hoje, tendo sido renomeada Rádio MEC após ter sido doada ao governo federal em 7 de setembro de 1936.
Este foi mais um capítulo da história das comunicações brasileiras, marcado também por uma característica muito comum a esses homens empreendedores, aos quais devemos todo o nosso tributo: o pioneirismo concorda?
Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Associate Partner na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.
Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia.
Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.
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