Em agosto de 2021, ao escrever um dos meus primeiros artigos aqui nessa rede, fiz a seguinte provocação no título: “IoT só funciona em redes sem fio? Conheça 4 tipos de redes de acesso.”
Nesse artigo, falei um pouco sobre outras tecnologias de acesso para soluções IoT, inclusive redes cabeadas. Não é porque um sensor tem um cabo de dados e acesso a uma tomada de energia elétrica, que isso não pode ser considerado uma solução IoT.
Mas, o destaque nesse artigo é outro: vamos falar de tecnologias de acesso móvel que podem beneficiar bastante o mundo IoT provendo soluções de conectividade que enderecem de maneira mais efetiva as necessidades de banda, mobilidade e desempenho.
Muitas pessoas pensam que habilitar um dispositivo IoT é simples: prover conectividade, integrar a ferramenta que fará a coleta e análise dos dados e seguir o jogo. Porém, existem questões muito relevantes a serem consideradas:
- Consumo de energia: muitos desses dispositivos são instalados em locais de difícil acesso e sem uma fonte constante de energia. Portanto, quanto menos consumo, menor a quantidade de trocas de bateria.
- Cobertura: alguns dispositivos têm mobilidade durante a sua operação e outros não. Requisitos de velocidade e latência também podem variar. A potência do sinal e consequentemente a cobertura daquela célula também.
Escolher a tecnologia mais adequada pode ser chave na construção do Business Case e seu retorno.
Tipos de rede celular para IoT
As conexões tradicionais em 2G e 3G, usam as redes celulares da mesma maneira que um aparelho convencional ou podem, gastam os mesmos níveis de energia e ocupam mais o espectro que deve ser compartilhado entre todos.
Pensando nisso, com a chegada do LTE ou 4G – no Brasil desde 2013. Foram pensadas tecnologias para se adequarem a realidade de uso desses sensores / atuadores, trazendo mais eficiência tanto para o dispositivo quanto para a rede celular.
Duas tecnologias derivadas do 4G estão em uso crescente no mercado: LTE-M ou CAT-M1 e NB-IoT. Vamos ver um pouco das diferenças entre elas:
NB-IoT
Surgiu no Release 13 do 4G (2015) e como o próprio nome diz – Narrow Band IoT, possui uma largura de faixa bem estreita, o que habilitar seu funcionamento na banda de guarda com espectros adjacentes já que usa apenas 200 kHz.
Essa tecnologia permite trafegar dados em velocidades baixas e com alta latência, podendo não funcionar para todos os casos, porém permite alta economia de energia – o dispositivo pode ficar sem se comunicar com a rede por até 3 horas.
66kbps e uma latência de até 10 segundos não servem para aplicações que necessitam dados em tempo real e grandes volumes, porém podem ser muito úteis, por exemplo, em Smart Metering conectando medidores de água, gás e energia à rede.
Outro ponto a se considerar é que NB-IoT não permite mobilidade, ou seja, serve para equipamentos que não mudam de posição.
NB-IoT – Fonte: IoT Factory
LTE-M ou CAT-M1
Também veio do Release 13 do 4G (2015) com a missão de ser uma alternativa às redes de baixo consumo de energia (LPWAN) que operam em espectro não licenciado – LoRa, Sigfox, etc.
Seu objetivo é transmitir volumes de dados entre com uma velocidade de até 1Mbps de downlink em uma área de cobertura considerável. Além do baixo consumo de energia – seus devices podem ficar em modo standby por até 40 minutos.
Diferente do NB-IoT, o CAT-M1 permite mobilidade, o que pode ser bastante útil em soluções de rastreamento de ativos e pessoas. Também tem suporte a voz, o que nos faz pensar em muitas aplicações como, por exemplo, um médico se comunicando com um paciente que aparenta não estar bem a partir de seu dispositivo wearable.
Dispositivo LTE-M / CAT-M1 – Fonte: Aliexpress
Disponibilidade no Brasil
Segundo dados do site Teleco, existem 4.716 municípios cobertos por NB-IoT e 3.024 com CAT-M1 sendo a TIM o provedor principal de NB-IoT e a Claro de CAT-M1. Não encontrei informações sobre a Vivo, mas o site diz que possui cobertura em ambas as tecnologias. Se tiver algum dado, me envie que complemento aqui.
O que vem por aí com o 5G?
Ainda estamos no início da adoção dessas redes baseadas em 4G. Com a expansão dessa tecnologia ainda em curso e incentivada pelo leilão do 5G, tais redes devem permanecer em operação por muitos anos ainda.
Porém, o 5G já traz em seu padrão algo específico para IoT compondo um de seus 3 principais pilares de evolução: o mMTC – massive Machine Type Communications.
Nesse padrão, a densidade de dispositivos conectados simultaneamente pode chegar a 1 milhão por km² – algo impensável com as aplicações que temos hoje, porém um grande habilitador para aplicações futuras.
Padrão 5G – Fonte: Zhihu
O padrão também fala em melhorias de cobertura, manutenção do baixo consumo de energia mesmo com altas taxas de transmissão. Vamos acompanhar essa evolução.
É um ponto chave em um projeto que envolva IoT entender quais soluções melhor se adequam a sua realidade. Portanto é essencial que a opinião de especialistas em conectividade seja considerada.
Um ponto de atenção…
É fato de que a tecnologia de conectividade trabalha como um grande habilitador de novos casos de uso. Startups surgem a cada minuto buscando endereçar dores gerando mais eficiência operacional e novos modelos de negócio.
Como o uso do espectro é algo particular de cada país, com muitos pontos de convergência, mas sem um consenso total, teremos uma boa variedade de frequências disponíveis e nem todos os dispositivos “gringos” prontos para operar nelas.
Outro ponto de atenção é a mudança nas cadeias de produção. Qualquer interrupção nelas pode significar atrasos relevantes em projetos.
Por fim vem a questão de suporte. Devices locais que sejam compatíveis com a nossa realidade de uso de espectro de frequências, com menor dependência da cadeia global de suprimentos, podem se beneficiar de suporte local, reduzindo o risco de projetos inovadores.
Já conhecia essas tecnologias de rede celular dedicadas a IoT?
Publicado originalmente em mauroperiquito.com
Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Associate Partner na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.
Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como Linkedin Top Voice de Tecnologia & Inovação.
Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.
Artigos relacionados:
- Como funcionam as chamadas de voz no 4G/5G?
- 4 segmentos onde IoT e constelações satelitais podem fazer a diferença em áreas remotas
- Chegou a hora das redes 5G privadas?
- 4 tendências do 5G para 2023 que você precisa conhecer
- Wi-Fi 6 é melhor que o 5G?
- Como os municípios devem suportar a expansão do 5G?
- Smart Cities e 5G: grandes aliado na Transformação Digital
- Qual o tamanho do desafio de conectividade no Agro?
- 5G no Brasil: onde estamos?
- Como o 5G vai revolucionar os negócios?
- Por que o setor financeiro pode se transformar novamente com o 5G?
- 3 casos de uso com 5G na Saúde – Parte 1
- 3 casos de uso com 5G na Saúde – Parte 2
- Como anda a ativação do 5G globalmente?
- Como as operadoras regionais irão impulsionar o 5G Brasil afora?
- Por que o 5G está demorando para ser ativado?
- Por que 5G e Satélites formam uma boa dupla?
- Seu celular já é compatível com o 5G?
- Qual diferença entre redes 5G privadas e públicas?
- 5 perguntas sobre Redes Privadas 5G
- Qual o futuro do Wi-Fi vs. 5G?
- Qual o futuro do Wi-Fi vs. 5G? – Parte 2
- 13,2 trilhões de motivos para ficarmos de olho no 5G
- O cronograma do 5G pode atrasar, e agora?
- Já funciona o 5G liberado pelo leilão?
- Como o 5G pode ajudar a trazer tecnologia para o saneamento básico?
- Como o 5G pode ajudar a trazer tecnologia para o saneamento básico? – Parte 2
- 4 aplicações que usam o 5G para prevenir acidentes e salvar vidas.
- Onde o 5G pode ajudar a indústria automotiva?
- Por que o 5G é mais B2B que B2C?
- Como o 5G ajudará o supply chain?
- Quando uma rede privada em 4G pode ser a solução mais adequada?
- Quais os requisitos técnicos para ativar uma rede 5G privada?
- Como construir uma rede 5G privada?
- Por que a banda de 3,5 GHz é a grande protagonista do 5G no Brasil?
- É possível o 5G interferir nos radares altimétricos dos aviões?
- Como o Network Slicing do 5G pode melhorar nossas comunicações móveis?
- 9 perguntas sobre o 5G: um guia prático de tecnologia
- Por que tem 5G no meu celular se o leilão acabou de acontecer?
- Quando o 5G vai chegar na minha casa?
- 8 aplicações práticas para o 5G
- Como esse tal de 5G funciona?