Por que precisamos seguir falando do 6G?

Assim como as gerações de redes celulares são sequenciais, continuo afirmando que as reclamações referentes a elas também são… Só que em um esquema N-1.

Essa tem sido a minha constatação ao falar de redes celulares por aqui. Quando falo que o 4G é a estrela oculta do leilão do 5G, aparece um abençoado dizendo que na cidade dele mal o 3G funciona.

Em outra oportunidade, ao falar do avanço da implantação do 5G, que em breve deve romper as marcas de 1000 cidades cobertas e 30 milhões de usuários, a resposta de outra pessoa foi me dizendo que se nem o 4G funciona, para que pensar no 5G?

Agora, caros amigos, nas oportunidades em que trago conteúdos sobre o 6G, além de ser considerado futurista, tenho a queixa de que estamos iniciando a implantação do 5G e não há necessidade de se falar sobre o 6G ainda.

Está na hora de falar sobre o 6G? Sim, está! Vamos entender por quê?

O 6G e seu desenvolvimento

No meu primeiro artigo sobre o 6G, já tinha brincado com essas reclamações e além de olhar os conceitos do 5G, falamos um pouco sobre o que esperar do 6G. Se você quiser revisar esses conceitos, veja o artigo: O que vem por aí com o 6G?

As ultra velocidades, a conectividade ubíqua (cobertura em áreas remotas) e a latência praticamente zero, são as características que mais chamam a atenção no 6G. No que diz respeito aos casos de uso, estamos prevendo a consolidação dos veículos autônomos, a comunicação imersiva por hologramas e até mesmo a internet táctil. Imagine transmitir sensações de toque em superfícies em tempo real, facilitando procedimentos como cirurgias robóticas realizadas remotamente.

Mas com o ciclo de desenvolvimentos de redes celulares durando entre 8 e 10 anos, há muito o que ser feito até o lançamento comercial do 6G e diria que estamos ainda na primeira fase dessa jornada.

Nesta fase, que podemos chamar de pesquisa e concepção, estamos definindo os conceitos e objetivos do 5G. Junte a isso uma boa camada de pesquisa que desencadeia na criação de grupos de estudo e iniciativas de colaboração entre a indústria e institutos de pesquisa.

Estas discussões já estão produzindo alguns resultados e destaco o documento de recomendações do 6G produzido pela UIT – União Internacional das Telecomunicações que publiquei neste post.

A busca pela inovação deve ditar a segunda fase desse ciclo: o desenvolvimento das tecnologias que deverão compor o 6G. Com o motivo principal de “aterrizar” as pesquisas em soluções, haverá uma corrida de governos e da iniciativa privada para desenvolver e garantir seu posicionamento frente ao mercado. Os prováveis outputs dessa fase serão produtos prototipados e padrões diversos.

Neste momento entra a fase de testes, o nirvana dos engenheiros. Os protótipos começarão a ganhar forma de produtos comerciais e teremos uma infinidade de testes do 6G. Os padrões se consolidam como aqueles que serão os seguidos pelo mercado.

Com todos esses testes em campo, os casos de uso ganharão maturidade e estarão próximos a serem executados em escala comercial. Também devemos ter notícias dos primeiros aparelhos celulares compatíveis com essa tecnologia.

Em paralelo a essa fase pré-comercial também deveremos ter a organização das faixas de frequência que serão usadas pelo 6G e as iniciativas de limpeza de espectro, se algumas faixas já estiverem em uso. Estamos falando na possibilidade do uso de frequências entre 100 GHz e 2 ou 3 THz.

O ciclo é longo, mas quando vem o 6G?

Apesar de já termos notícia de testes de 6G na China – incluindo até um satélite e em um ambiente de laboratório no Japão, não devemos ver a 6G disponível para nós usuários antes de 2030. Este marco, é o ano seguinte ao término do cronograma de implantações do 5G no Brasil.

Porém, se para os usuários o que interessa mesmo só acontece lá em 2030 ou mais: as primeiras implantações comerciais. Mas, para nós engenheiros, o trabalho de desenvolvimento do 6G está apenas no início e a cada momento teremos novidades do que vem por aí!

E você: bora falar de 6G?

Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Diretor Especialista de Prática na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.

Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como LinkedIn Top Voice de Tecnologia & Inovação.

Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.

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