Por que o telégrafo foi nossa primeira arma de guerra tecnológica?

Escrevendo o artigo sobre 13 cabos submarinos que conectam o Brasil com o Mundo, no trabalho de contextualização sobre essa tecnologia, me deparei com a interessante história do telégrafo no Brasil que além de ser nosso primeiro recurso de telecomunicações no país, foi também nossa primeira arma de guerra tecnológica.

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Aparelho de Telégrafo — Fonte: Colegioweb

Mas antes, um pouco de história…

O telégrafo e o código Morse foram inventados pelo estadunidense de Massachusetts Samuel Morse entre 1835 e 1839. O aparelho e o código usado na transmissão tinham capacidade de transmitir duas palavras por minuto! Porém, seu invento só teve sua primeira implantação oficial em 1843 ligando Baltimore a Washington. Em 1844 entrou em operação com uma frase emblemática como primeira transmissão:

“What hath God wrought!” (Que obra fez Deus!) – Samuel Morse

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Samuel Morse em 1866 por Mathew Brady – Fonte: Wikipedia

E o que é esse famoso Código Morse?

É um sistema de comunicação binário criado para representar letras, números e sinais de pontuação via um sinal cifrado e irregular de pontos (.) e traços (-) chamados de bits e dahs. Conforme o ritmo e os intervalos dos simbolos se decifra o sinal.

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Código Morse – Fonte: Hipercultura

Existem ainda códigos especiais com o fim da mensagem AR (.-.-.), espere por 10 segundos AS (.-…) e recebido R(.-.).

E o famoso SOS que vemos em vários filmes (…—…).

A chegada do telégrafo no Brasil: motivações políticas

O panorama político nos anos 1850 no Brasil era pacífico após décadas de revoluções separatistas e movimentos liberais pelo país. Naquela década o ponto de maior discussão com a Inglaterra era o tráfico de escravos, que foi endereçado pela Lei Eusébio de Queiroz, de autoria do Ministro da Justiça na época, Eusébio de Queiroz Coutinho Matoso da Câmara, proibindo tal prática. O ministro também determinou que fossem instaladas linhas de telégrafo para auxiliar no combate à escravidão conectando os pontos de observação de chegada dos navios no Rio de Janeiro — capital do império e os quartéis de polícia.

A primeira linha foi inaugurada em 11 de maio de 1852 ligando o Palácio de São Cristóvão ao Quartel-general no Campo da Aclamação (Campo de Santana). A instalação do cabo de comunicação que foi feita de maneira subterrânea, teve na obra o auxílio dos presos da Casa de Detenção.

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Cabine de telégrafo,  Morro do Castelo – Fonte: Biblioteca Nacional

O Imperador D. Pedro II, grande admirador do conhecimento científico e tecnológico esteve presente na inauguração dessa linha que teve como objetivo testar tal tecnologia. Com o sucesso dessa primeira implantação foram comprados aparelhos tipo Morse e nos anos seguintes, novas linhas foram instaladas na capital conectando algumas repartições públicas, quartéis de bombeiro, polícia e algumas fortalezas na Baía de Guanabara.

Em 1857 foi instalado o primeiro cabo submarino lançado no Brasil — 6 anos após a primeira implantação de cabos submarinos no mundo. Esse cabo era parte da segunda linha telegráfica do país que ligava o Rio de Janeiro a Petrópolis — RJ. Dos 50 km da linha, 15 km eram submarinos.

A Lei Eusébio de Queiroz cumpriu seu papel e entre 1849 e 1952 o tráfico de escravos diminuiu de 54 000/ano para 700/ano. Com o fim do tráfico, o telégrafo caiu em desuso escrevendo um capítulo triste da história das telecomunicações do país, pois, não foi percebido como um instrumento de comunicação que pudesse ter outro propósito. Seu desenvolvimento ficou estagnado entre 1857 e 1865.

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A Guerra do Paraguai

Em 1864 veio o ato que mudou a história do país e também do telégrafo: o Paraguai aprisionou um navio brasileiro em 12 de novembro (Marquês de Olinda) no Rio Paraguai, e em 13 de dezembro do mesmo ano invadiu a província do Mato Grosso e declarou guerra ao Brasil.

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Famosa pintura sobre a Guerra do Paraguai – Fonte: voupassar

O único acesso à província do Mato Grosso era via a bacia platina e pelos rios Paraná e Paraguai. Por terra não havia caminho e a necessidade de notícias do front era latente. O governo brasileiro resolveu investir em uma ousada obra: estender uma linha de telégrafo entre o Rio de Janeiro e o front no Mato Grosso por terra.

Não houve tempo de se planejar o projeto, fazer uma análise de custos ou da efetividade da solução a uma distância tão grande. A Repartição Geral de Telégrafos, que havia sido criada em 1855, chefiada por Guilherme Capanema — o mesmo que implantou a linha entre o Rio de Janeiro e Petrópolis em 1857 para chefiar a obra.

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O projeto foi terminado um ano depois do seu início em 1866. Como não havia um plano, a medida que um trecho era construído, uma equipe ia à frente decidindo o traçado da linha no trecho seguinte. Transporte de materiais e pessoal foi outro desafio logístico do projeto que contou com apoio de proprietários das terras ao longo da rota.

Obteve-se um resultado inicial muito ruim porque na pressa os cabos foram amarrados em árvores em alguns trechos e também havia defeitos de fabricação dos cabos usados na travessia dos rios. O tempo também foi um ofensor no treinamento do pessoal de operação e manutenção das estações telegráficas intermediárias.

Mesmo tendo sido um projeto a toque de caixa com aproximadamente 2000 km de distância, todas as dificuldades impostas pela implantação, e após muitos reparos, enfim veio o benefício esperado do telégrafo: o Império entendeu as vantagens em ter um aparelho de comunicação à distância não só para uso militar como também para a política. A partir daí o uso foi gradualmente expandido por todo o país para aproximar e fortalecer as forças políticas.

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Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Associate Partner na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas. 

Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia.

Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos incluindo o cicloturismo.

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Bibliografia:

Biblioteca Nacional

Guerra do Paraguai – Especial

A telegrafia no Brasil Império – ciência e política na expansão da comunicação – Artigo Mauro Costa da Silva

Hipercultura – Código Morse