Esta semana tivemos mais boas notícias sobre a ativação do 5G. Além de Brasília que teve o 5G ativado no dia 6 de julho, amanhã 29 de julho mais três capitais se juntarão a esse seleto time de cidades onde o 5G Standalone, dito “puro” por muitos, está disponível para os clientes das operadoras de telefonia móvel.
Caso queira entender um pouco mais a diferença entre o 5G “puro” – Standalone e o DSS, ativado no Brasil desde julho de 2020, veja esse artigo.
Como temos discutido muito aqui no LinkedIn sobre a evolução dos desdobramentos do leilão do 5G, que foi realizado em novembro de 2021 e as novas funcionalidades do 5G, muitos me perguntam porque está demorando tanto para que essa tecnologia seja ativada Brasil afora.
Vamos analisar alguns fatores relevantes para a evolução desse cronograma?
Por que o 5G está demorando a ser ativado?
Existe mais de uma resposta para essa pergunta:
1 – Cronograma
No edital do leilão temos um cronograma estabelecido de como deve ser o ritmo de ativação do 5G Brasil afora:
- Até o dia 31 de julho de 2022, as capitais de Estados e o Distrito Federal, na proporção mínima de uma estação para cada 100 mil habitantes. Esse marco foi postergado para 30 de setembro por atraso na entrega de equipamentos para limpar a faixa – ponto que abordaremos mais adiante nesse artigo. Porém estava previsto no edital uma postergação de 60 dias;
- Até o dia 31 de julho de 2023, as capitais de Estados e o Distrito Federal, na proporção mínima de uma estação para cada 50 mil habitantes;
- Até o dia 31 de julho de 2024, as capitais de Estados e o Distrito Federal, na proporção mínima de uma estação para cada 30 mil habitantes;
- Até o dia 31 de julho de 2025, as capitais de Estados e o Distrito Federal e os municípios de população igual ou superior a 500 mil habitantes, na proporção mínima de uma estação para cada 10 mil habitantes;
- Até o dia 31 de julho de 2026, os municípios de população igual ou superior a 200 mil habitantes, na proporção mínima de uma estação para cada 15 mil habitantes;
- Até o dia 31 de julho de 2027, os municípios de população igual ou superior a 100 mil habitantes, na proporção mínima de uma estação para cada 15 mil habitantes;
- Até o dia 31 de julho de 2028, 50% dos municípios de população igual ou superior a 30 mil habitantes, na proporção mínima de uma estação para cada 15 mil habitantes;
- Até o dia 31 de julho de 2029, todos os municípios de população igual ou superior a 30 mil habitantes, na proporção mínima de uma estação para cada 15 mil habitantes.
Portanto esse é o cronograma mínimo que deve ser cumprido pelas operadoras.
2 – Limpeza do espectro
Antes de começar, o que é espectro? É o conjunto de faixas de frequências de ondas eletromagnéticas visíveis e não visíveis. Visíveis porque toda luz, e as cores que o olho humano enxerga são parte do espectro:
Espectro de luz visível – Fonte: Brasil Escola
Para as operadoras utilizarem foi alocada uma faixa na Banda C estendida, que está alocada entre 3,3 e 3,8 GHz chamada Banda n78. A figura abaixo ilustra a distribuição de frequências por operadora e tipo de serviço:
Espectro de frequências 5G SA – Fonte: Arquivo Pessoal
Veja que há uma intersecção entre o serviço chamado TVRO (Television Receive Only) – as famosas TVs parabólicas e as faixas de frequências alocadas para o 5G. Além disso, também nessa faixa de frequências funciona o serviço de transmissão de dados via satélite chamado FSS (Fixed Satellite System).
Para esses dois casos duas medidas estão sendo tomadas:
Para o serviço TV Parabólica: Os canais estão em migração para a Banda Ku e é necessário trocar a antena e o receptor de sinais que temos em casa. Para as pessoas cadastradas em algum programa social do governo esse custo de aquisição e instalação está sendo subsidiado pelo grupo de empresas vencedor do leilão do 5G. Os demais devem adquirir kits no mercado. Veja abaixo uma figura que explica qual tipo de antena deve ser trocado:
Antenas de recepção de sinal de TV – Fonte: Siga Antenado
Já para as estações de transmissão satelitais FSS (Fixed Satellite Services) que também usam essa faixa de frequência, está acontecendo a instalação de filtros para mitigar qualquer interferência. É a habilitação desses filtros, somados a disponibilização dos kits de TV parabólica para a população que estão ditando o ritmo das ativações.
Uma vez esse rito concluído em uma determinada cidade/região metropolitana, a Anatel vem aprovando a habilitação do 5G. Assim foi com Brasília e está ocorrendo com Porto Alegre, Belo Horizonte e João Pessoa. A previsão é que as demais capitais estejam prontas até o final de agosto.
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O que pode acelerar esse cronograma?
Dois fatores podem fazer com o que o cronograma de ativações do 5G acelere:
1 – Necessidades de mercado
A demanda do mercado vêm dando sinais de que o ritmo de ativações do 5G deve ser maior do que o compromissado no edital do leilão. Veja os casos com ativação recente:
- Em Brasília, já estão ativadas 335 ERBs (o triplo do mínimo exigido);
- Em João Pessoa, foram instaladas 50 antenas (66% a mais);
- Em Porto Alegre, 103 ERBs (80% acima do mínimo);
- Em BH, 157 antenas (63% a mais do que o exigido).
Esses indicadores foram calculados a partir da necessidade de se ativar uma antena para cada 100 mil habitantes até 30/09.
2 – Aprovação das leis de antenas municipais
Como o 5G necessita de 5 a 10 vezes mais antenas para funcionar – por estar em uma faixa de frequências mais alta que o 4G e as gerações anteriores de celular, teremos pela cidade não só antenas instaladas em torres de telecomunicações, mas principalmente antenas compactas espalhadas pelo mobiliário urbano: topos de prédios, postes de energia, pontos de ônibus, etc.
Luminária que irradia 5G instalada em Curitiba-PR para testes – Fonte: Minha Operadora
Com as nossas leis que permitem a aprovação para instalação de novas antenas, meses seriam necessários para ter a autorização de cada uma delas. Para isso foi editado pelo governo federal uma nova Lei Geral de Antenas (13.116/15) e cada município deve alterar a sua legislação local por se tratar de mobiliário urbano.
Dos 5570 municípios do Brasil, apenas 111 tem leis aprovadas e neles incluídas apenas 12 capitais. As cidades com leis aprovadas primeiro podem ter seus cronogramas antecipados e até substituir outras que não cumpriram esse rito legislativo e tinham prioridade de ativação
Além das redes das operadoras também temos as redes privadas 5G que estão sendo ativadas por empresas para atender necessidades específicas dos seus negócios. Confira mais detalhes nesta série de artigos:
- Como construir uma rede 5G privada?
- Quais os requisitos técnicos para ativar uma rede 5G privada?
- Quando uma rede privada em 4G pode ser a solução mais adequada?
- 5 perguntas sobre Redes Privadas 5G
- Qual diferença entre redes 5G privadas e públicas?
Alguma dúvida sobre o 5G? Ficaria feliz em discutir, te ajudar pelos comentários ou numa mensagem de Inbox.
Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Associate Partner na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.
Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia.
Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos incluindo o cicloturismo.
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