O que vi na Agrishow 2024?

Semana passada estive de volta na Agrishow. Foi apenas a minha segunda vez nessa feira, mas o retorno esse ano foi ótimo para ver as novidades tecnológicas voltadas para o Agronegócio.

Para se ter uma ideia da magnitude da feira, são 800 estandes visitados por cerca de 195 mil pessoas em 5 dias de feira. Se a frase anterior dá uma conotação de exposição para a feira, surpreenda-se comigo com os 13,6 bilhões de reais movimentados durante a semana toda.

Da mesma maneira que escrevi em um post no ano passado, a feira traz produtos que vão do micro ao macro: de bicos de pulverizadoras até a colheitadeira mais larga do mercado -> 19 metros!

Cana de 6 metros – Fonte: Acervo Pessoal

 

Mas além de muitos equipamentos e tecnologia agrícola, o que vi na feira este ano foi muita tecnologia digital, que na minha visão trouxe uma clara amostragem de evolução no tema.

Vamos ver o que rolou por lá?

A Agrishow 2024 e sua demanda por tecnologia.

Ano passado na Agrishow eu perguntei muito nas visitas aos estandes ao ter contato com a tecnologia aplicada ao agro. Às vezes as perguntas eram técnicas demais ou simples no quesito agrícola. Ambas situações deixavam os vendedores dos estandes com alguma dúvida no que me responder.

Arena de Soluções Agro – Fonte: Acervo Pessoal

 

Este ano eu adotei uma tática diferente: resolvi ouviras explicações que eram dadas a outras pessoas, em sua maioria produtores rurais e empresários do agronegócio. Neste modo escuta, um exercício de paciência para alguém que gosta de se comunicar o tempo todo, pude observar em diversas situações como as dúvidas e curiosidades eram perguntadas e também respondidas.

Este exercício por si só já foi um ensinamento que valeu a viagem e o dia no sol escaldante de 36 graus e muita terra vermelha!

36 graus na rua principal da Agrishow – Fonte: Acervo Pessoal

 

Seguindo pela feira, e comparando com o ano passado, vi mais estandes abordando novidades tecnológicas. Talvez o que mais vi por lá foram dashboards. Telas mostrando indicadores coletados de diferentes processos do agronegócio estavam por todos os lados.

Boa parte dos produtos que continham esses dashboards tinham o “sobrenome” Cloud em seus nomes. Isso nos mostra o quanto Cloud é um motor importante de transformação digital para o agronegócio.

Ainda falando de dados, se por um lado vi muita coleta e exposição de dados, por outro senti falta da geração de insights provenientes do tratamento e análise de dados. Arrisco-me a dizer que da Agrishow 2025 voltarei com uma impressão diferente sobre esse tema.

Ainda falando de dados, gastei um bom tempo quando achei uma solução baseada em GPT-4. Pedi licença ao meu plano de perguntar pouco e satisfiz a minha curiosidade. Um ponto que fiz questão de explorar com o responsável pela solução foi a experiência do usuário em frente a um prompt vazio.

A resposta do “explicador” foi genérica, mas ele quis enaltecer que mesmo no agro, já existe uma boa parcela dos profissionais apta a operar uma interface tão interativa quanto um prompt. Na hora pensei na folha de papel que tem tanto na casa dos meus pais quanto da minha avó com os números e nome de cada canal de tv. Será que vamos ter um papel com as principais perguntas para fazermos ao prompt?

No mais, vi uma enxurrada de pilotos automáticos controlados por georreferenciamento, boas soluções de pulverização inteligente e eficiente borrifando apenas onde há erva daninha, máquinas autônomas e motores movidos a energia alternativa como a elétrica e o metano que pode ser captado na própria fazenda.

Pulverizador Autônomo – Fonte: Arquivo pessoal

Mas e a conectividade?

Por mais que ainda tenhamos menos de 20% do território nacional com cobertura de rede celular, eu notei uma diferença na abordagem e discussões sobre conectividade.

No ano passado, a estrela do evento era a Starlink que chegava para movimentar o mercado e se falava muito em redes privativas sem deixar de mencionar na presença bem relevante das operadoras.

Pulamos para 2024 e o problema de conectividade segue sendo um grande desafio para a adoção de tecnologia no agro. Talvez o maior deles. Segundo a Conectar Agro e o seu Indicador de Conectividade Rural, somente 37% das propriedades rurais tem conexão 4G disponível.

O maior trator da feira – Fonte: Acervo Pessoal

Este enorme gap de cobertura fomenta o uso de conectividade via satélite. Mas se pensarmos que o maquinário é móvel e assumir os custos de uma mensalidade por máquina fora a aquisição da antena, o custo fica impraticável.

A solução passa por algumas opções: redes privativas que já tem um portifólio desde opções econômicas e compactas até redes robustas e extensas. Pensando no que as operadoras podem fazer para ampliar a cobertura das redes públicas, outra solução pode ser o uso dos recursos do FUST, que não por acaso é a sigla para Fundo de Universalização das Telecomunicações.

Se o objetivo é Universalizar, por que não usá-lo para cobrir áreas rurais, que além das propriedades também pode trazer conectividade para escolas, postos de saúde, pequenos vilarejos e estradas?

Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Diretor Especialista de Prática na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.

Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como LinkedIn Top Voice de Tecnologia & Inovação.

Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.

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