Ao escrever este título e começar a desenvolver o artigo de hoje, me vem à mente os diversos questionamentos que alguns vão colocar aqui:
“Se mal começamos a implantação do 5G aqui, para que falar de 6G?”
“Como nem o 4G chegou por aqui, por que eu vou me importar com duas gerações acima?”
As percepções sobre cobertura e qualidade do sinal são muito subjetivas e dependem de diversos fatores. E hoje em dia não é difícil encontrar alguém que tem problemas de cobertura em um determinado local. Eu mesmo me incluo nessa lista: moro em um andar alto, sem muitos prédios próximos, que recebe sinal de várias antenas ao mesmo tempo. Isso faz com que o sinal oscile o tempo todo.
Independente do seu estado atual de cobertura celular, o nosso objetivo aqui nessa newsletter – Tech Talks, é falar de tecnologia de uma maneira descomplicada e assim conseguir elevar o nível de conhecimento de todos.
Pacificados alguns “disclaimers”, bora falar da próxima geração de redes celulares, o 6G?
Mas e o 5G?
Apesar desse ser o meu primeiro artigo sobre 6G, eu já escrevi diversos sobre o 5G, começando lá atrás em agosto de 2021 com o primeiro: Como esse tal de 5G funciona?
De lá para cá discutimos uma infinidade de abordagens sobre o 5G em diversos artigos. Porém, para facilitar o nosso entendimento hoje, vou trazer um breve resumo sobre a quinta geração de redes celulares.
As três principais características do 5G são:
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Mais velocidade: podendo chegar a algo entre 10 e 20 Gbps;
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Baixa latência: o atraso na entrega dos pacotes trafegados pode chegar a zero milissegundos;
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Maior quantidade de dispositivos conectados simultaneamente: idealmente podemos ter 1 milhão de dispositivos conectados por quilômetro quadrado.
Além disso, temos duas características técnicas que o 5G viabilizou:
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Network Slicing: um “fatiamento”virtual da rede que permite que fluxos de tráfego de dados específicos sejam priorizados
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Redes Privativas: a possibilidade de poder construir redes que sejam dedicadas, física e logicamente, a uma organização.
Todo esse incremento de qualidade que o 5G trouxe, vem possibilitando a criação de diversos casos de uso envolvendo, por exemplo, IoT, Machine Learning e Inteligência Artificial.
Em termos de implantação, apesar de discutirmos isso o tempo todo, vou deixar uma breve explicação aqui de como está o cronograma do 5G: regulamentarmente deveríamos ter implantado 5G em todos os municípios até 2029. Porém, com a antecipação de cronograma que estamos vendo, para a maioria dos municípios brasileiros esse prazo deve ser menor do que o planejado.
O que é o 6G?
A sexta geração de redes celulares está na fase de discussão técnica, reunindo análises de requisitos para que se elaborem as normas. Há um órgão chamado 3GPP que regulamenta as gerações de redes celulares onde participam os fabricantes e as operadoras globalmente.
Nos próximos dois ou três anos deveremos ter mais claras essas características com as publicações de atualização das normas (releases) sendo feitas de maneira programada. Para nós, clientes das operadoras, deveremos ter o 6G em implantação durante a década de 2030.
Feita essa introdução, vamos mergulhar nas principais características do 6G:
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Ultra velocidades: espera-se que cheguemos com o 6G a 1 Tbps de velocidade de download. Nesse nível de performance, deixamos de ter tempo de download se considerarmos os conteúdos que temos hoje. É informação disponível em tempo real sem ter que esperar nada.
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Latência mínima: aqui certamente teremos mais uma rodada de otimização, fazendo com que o atraso no envio e recebimento dos pacotes seja imperceptível.
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Ainda mais dispositivos conectados: você já parou para pensar quantos dispositivos conectados a internet você pode ter em uso diariamente? Com a popularização e a criação de novos, que acontece o tempo todo, a tendência é que esse número siga aumentando de maneira bem agressiva. O 6G tem que estar pronto para lidar com todos eles praticamente ao mesmo tempo.
Além dessas características técnicas, podemos ter casos de uso que hoje só vemos em filmes e livros de ficção científica.
Um deles é a popularização dos hologramas em chamadas de vídeo. Imagine interagir com uma pessoa representada por um holograma em tamanho real em uma simples chamada de vídeo originada por um usuário comum.
Sobre os casos de IoT, se até o 5G estamos em uma era de conectividade plena, com o 6G vamos precisar saber lidar com trilhões de dispositivos globalmente. As características do 6G podem viabilizar que esses equipamentos sejam mais inteligentes na ponta, porém simples em suas construções, fazendo-se valer disso para processar dados em datacenters próximos (near edge).
Este canal rápido e preciso manterá a performance de aplicações que envolvam um alto volume de processamento de imagens remotas, como se estivessem fazendo localmente.
A operação remota de máquinas e equipamentos também deve ganhar mais tração com o 6G. Aqui falamos de cirurgias remotas, por exemplo.
Falando em máquinas, também tem a questão da condução autônoma de veículos que pode se valer dessa qualidade de conexão em seus produtos.
Obviamente ter um canal de comunicação que suporte toda a informação necessária para essas tecnologias é importante. O 6G certamente terá “calibre” para isso. Mas, por outro lado, depende do desenvolvimento de hardware e software das aplicações citadas acima e tantas outras.
Ainda há muito o que se discutir, porém antes de terminar aqui, quero destacar outras duas características técnicas do 6G importantes para o que vem por aí:
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Economia de energia: para a conectividade plena, cada vez mais antenas serão implantadas. É esperado do 6G que os apectos de sustentabilidade sejam levados em conta, principalmente com redes mais eficientes energeticamente falando.
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Redes Inteligentes: com IA e ML podemos ter a operação das redes feita de maneira autônoma e a otimização instantânea pensada para melhorar a experiência dos usuários.
Vem muita coisa por aí e esse artigo é só um esboço do que podemos ver hoje, 6 anos antes de 2030: a década do 6G!
E você, já tinha ouvido falar do 6G?
Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Diretor Especialista de Prática na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.
Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como LinkedIn Top Voice de Tecnologia & Inovação.
Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.
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