Como é que uma funerária pode ter relação com a invenção das centrais telefônicas? TUDO! Essa passagem, que não tem nada de mórbida, é puro business e mais um dos capítulos curiosos da história das telecomunicações!
Venha comigo nessa que hoje além do artigo temos a estreia dessa newsletter: algo que venho trabalhando com muita dedicação.
Mas antes, vamos falar do newsletter…
O artigo de hoje tem um significado pra lá de especial. Com ele lanço o meu newsletter:
Tech Talks – uma visão descomplicada sobre a tecnologia.
Nessa jornada pelo conhecimento que venho trilhando com vocês aqui na rede, um dos meus maiores objetivos é desmistificar e simplificar o conhecimento técnico. Apesar de a tecnologia ser algo muito complexo e resultante de anos de pesquisas e ensaios, eu acredito que podemos simplificar e multiplicar o conhecimento para que qualquer pessoa consiga entender o que vêm acontecendo a sua volta e como pode transformar seus negócios ou sua vida.
Portanto, aproveito para convidar vocês a assinar meu newsletter que tem como objetivo levar essa visão descomplicada sobre a tecnologia a mais pessoas. Gratidão pessoal!
Voltando aos telefones e a funerária…
Quando o mestre Alexander Graham Bell concluiu a invenção do telefone (créditos ao italiano Antonio Meucci – inventor do primeiro protótipo), a comunicação era bidirecional porém em canal dedicado. Boiou, calma que eu explico! Em 1877 desembarcava no Brasil o telefone e as primeiras instalações telefônicas do país foram feitas entre o Palácio da Quinta da Boa Vista e as residências dos ministros do Imperador. Cada linha tinha um par de telefones nas pontas e um cabo dedicado conectando eles. Então no Palácio Imperial tinha um aparelho dedicado à comunicação com cada ministro.
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Aparelhos telefônicos usados no Palácio Imperial em 1877 Fonte: Rank Brasil
Uma curiosidade: sabia que com esse sistema telefônico imperial, o Rio de Janeiro foi a segunda cidade do mundo a ter linhas telefônicas em funcionamento? A primeira foi Chicago nos EUA.
Se você quiser saber mais sobre como os telefones chegaram ao Brasil, leia esse artigo: “Como o Brasil foi o segundo país do mundo a instalar telefones?“
Com o crescimento da demanda por telefones e essa complexidade de ter uma linha e um par de aparelhos dedicados a cada comunicação, surgiram as centrais telefônicas e as telefonistas. Assim, todos os aparelhos telefônicos eram conectados a uma central e a telefonista fazia a comutação unindo duas pontas que necessitavam falar.
Telefonistas em ação Fonte: Elev Tecnologia
Tal tecnologia possibilitou que ligações interurbanas pudessem ser feitas com a interconexão entre centrais diferentes. Diante dessa necessidade da intervenção manual para a conexão entre dois terminais, surgiu uma das mais curiosas histórias das telecomunicações.
O ano era 1887 e a cidade Kansas City no estado do Missouri – EUA, Almon Brown Strowger, um veterano da Guerra Civil Americana, usou suas economias para abrir uma funerária nessa cidade. Para atender a clientela mais facilmente comprou aquele que era um dos maiores gadgets da época: um telefone!
Almon Brow Strowger Fonte: Wikipedia
Apesar de cobiçado e admirado por todos, o telefone de Almon Strowger tinha um problema: simplesmente não tocava! Engana-se você se acha que o telefone dele estava com defeito. Na verdade era um problema de origem: uma das telefonistas de Kansas City era esposa de um outro proprietário de funerária e todas as solicitações de chamadas para funerárias eram direcionadas para o seu marido.
Percebam aqui que Almon Strowger tinha maneiras mais fáceis de resolver essa questão: ele poderia simplesmente reclamar para a empresa telefônica de Kansas City e ocasionar a demissão da telefonista. Porém ele foi além e o que ele inventou influi na maneira como nos comunicamos até hoje!
Apesar de muitas outras tentativas na época de se inventar uma central de comutação telefônica automatizada, foi Strowger e seu sobrinho que conseguiram ter sucesso com esse invento no ano de 1889 e o consequente registro da patente em 1891. A central que era um tambor de 10 linhas e 100 contatos por linha, tinha um assinante conectado a cada uma dessas posições possibilitando a conexão de 1000 usuários por central.
Esse invento também teve um efeito indireto nos aparelhos de telefone fazendo que eles incorporassem teclas de discagem, mais precisamente 3 chamadas de G, H e I. Assim se um assinante desejasse se conectar ao terminal número 321 por exemplo, pressionaria a tecla G três vezes, H duas vezes e I uma vez. Isso faria que um braço mecânico se movesse até o contato do assinante 321 e a ligação fosse efetuada.
O aparelho de Strowger com o disco numérico Fonte: Spark Museum
O sistema GHI evoluiu nas mãos de Strowger e ele inventou os discos numéricos usando a mesma solução de pulsos que usamos até 20 anos atrás. Ou seja cada número discado emitia uma quantidade de pulsos na linha para identificar o algarismo desejado. Veja que bacana, esse invento trouxe para nós o uso do verbo “discar” para alguém.
Quando tudo parecia complexo e a solução mais fácil era reclamar, Strowger decidiu tomar o caminho menos convencional e acabou nos presenteando com um dos grandes inventos das telecomunicações.
Você tem mais alguma dúvida ou curiosidade sobre telecomunicações, sua história e aplicações?
Me envie nos comentários ou um inbox.
Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Associate Partner na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.
Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia.
Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos incluindo o cicloturismo.
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