O que o Saneamento tem a ver com o Primeiro Computador do Brasil?

Há algumas semanas tenho pensado em escrever novamente sobre história da tecnologia. Já escrevi diversos artigos desde a Invenção do telégrafo e sua chegada no Brasil no início dos anos 1850, passando pelo telefone, rádio até a chegada da TV no Brasil.

Apesar dessa história toda estar muito focada nas jornadas das comunicações no Brasil, percebi que faltava algo a ser contado. Pensando em pioneirismo, o momento em que o primeiro computador chegou ao Brasil certamente deixou uma história muito interessante.

E foi aí que descobri uma feliz coincidência: a chegada do primeiro computador no Brasil está diretamente relacionado a um segmento que eu tenho um apreço especial: o saneamento.

Bora descobrir o que aconteceu?

Mas antes, um pouco de história…

A história do computador é extensa e podemos dizer que começa lá na Mesopotâmia com um instrumento de cálculo chamado ábaco que posteriormente foi aperfeiçoado pelos chineses.

No desenrolar da história tivemos diversos inventos, sendo os últimos pré-computadores chamados de calculadoras mecânicas. Já na década de 40, projetado para calcular a trajetória de projéteis balísticos, surgiu o ENIAC – Electronic Numerical Integrator and Computer.

ENIAC – Fonte: Evo – Computadores

 

Para programá-lo, era necessário literalmente um exército de pessoas para ligarem ou desligarem os inúmeros switches que reproduziam as sequências binárias de zeros ou uns – representados respectivamente por interruptores desligados ou ligados.

A origem do nome computador, vem da denominação destas pessoas programadoras: os computadores! Uma parte da imprensa chamava essas máquinas de cérebro eletrônico.

Esta máquina pesava incríveis 30 toneladas e tinha milhares de componentes eletrônicos como relês, válvulas e resistências. Era tão grande que ocupava 3 salas inteiras. Seu sistema operacional era carregado em cartões perfurados e ele realizava incríveis 100 mil operações matemáticas por segundo.

Em 10 anos de existência, estima-se que o ENIAC já tinha feito mais operações matemáticas do que todas aquelas feitas por pessoas até aquela data. Mas como tudo na tecnologia evolui, anos depois veio o UNIVAC, primeiro computador produzido em escala comercial do mundo.

UNIVAC no Brasil

No início da década de 50 surgiu no mercado uma nova família de computadores chamada UNIVAC – Universal Automatic Computer. O primeiro deles foi vendido nos EUA para o Departamento de Censo Americano, que queria monitorar o crescimento da população no pós-guerra.

Para comercialização eles foram vendidos em dois modelos menores e mais compactos que o UNIVAC-I: o UNIVAC-60 e o UNIVAC-120. O número contido no modelo era uma indicação a quantidade de dígitos decimais que teria cada modelo capacidade de processar por cartão perfurado.

Se o primeiro UNIVAC-I entrou em operação no ano de 1952, foi em 1957 que o primeiro computador desembarcou no Brasil: um UNIVAC-120. Dei um spoiler no título, mas a pergunta neste ponto segue pertinente: para quê o Brasil comprou seu primeiro computador?

Propaganda do UNIVAC-120 no Canadá – Fonte: Hardware

 

O Departamento de Água e Esgoto do estado de São Paulo, adquiriu este computador para fazer o cálculo do consumo de água na capital. Devido ao seu tamanho, ele ocupou um andar inteiro de um prédio. Sua capacidade de processamento era de 12 mil somas ou subtrações, e 2.400 multiplicações ou divisões por minuto.

Chegou um Univac-120, o primeiro computador no Brasil, adquirido pelo Governo do Estado de São Paulo, era usado para calcular todo o consumo de água na capital. Ocupava o andar inteiro do prédio onde foi instalado. Equipado com 4.500 válvulas, fazia 12 mil somas ou subtrações por minuto e 2.400 multiplicações ou divisões, no mesmo tempo.

Ele era equipado com 4.500 válvulas e pesava 3.175kg – considerado compacto para aquela época. Custou 100 mil dólares e era operado por engenheiros do ITA.

É curioso ver que justamente o Saneamento, um setor que carece de muito investimento no país, foi o primeiro a buscar a digitalização e automação de algumas de suas rotinas. Se este pioneirismo e preocupação tivessem sido mantidos, talvez tivéssemos um cenário bastante diferente do que vivemos ao contabilizar 100 milhões de pessoas sem acesso à coleta e tratamento de esgoto e outras 35 milhões sem água tratada.

A partir daí tivemos a chegada de alguns computadores na indústria e até a construção dos primeiros computadores brasileiros. Em 1961, alunos do ITA construíram o “Zezinho” que funcionou somente em ambiente de laboratório. Já em 1972 surgiu na USP o “Patinho Feio”, este um computador com arquitetura computacional e gerador de base de conhecimento para o início da indústria brasileira de informática.

Você já conhecia esta história do primeiro computador brasileiro?

Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Diretor Especialista de Prática na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.

Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como LinkedIn Top Voice de Tecnologia & Inovação.

Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.

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