Não faz muito tempo que tive uma conversa bastante peculiar com um colega ciclista sobre tecnologia. Tentarei reproduzi-la aqui de maneira mais fiel possível:
🚴🏻 – Periquito, com o que você trabalha?
🦜 – Com tecnologia!
🚴🏻 – Periquito, você faz programa? (Essa piada é bem recorrente…)
🦜 – Não engraçadinho (transcrição educada da negativa). Eu auxilio indústrias a obter mais eficiência na sua produção projetando e implantando soluções de tecnologia em processos do seu negócio.
🚴🏻 – É verdade que existe um tal de Gêmeo Digital, e vão clonar o mundo e as pessoas também?
🦜 – Existe sim, mas os objetivos dessa tecnologia são bem diferentes disso que você disse. Deixa eu te explicar um pouco…
Concluindo a fase Forrest Gump do artigo, foi assim que eu tive a inspiração para escrever o artigo de hoje do Tech Talks: explicar um pouco sobre o que é esse tal de Gêmeo Digital.
Mas o que significa Gêmeo Digital?
A verdade é que o termo quase que se auto explica. Um Gêmeo Digital é uma replica digitalizada de algo do mundo físico, construído se baseando em dados coletados no mundo real.
Falando em coleta de dados, não é difícil fazer a relação da escalabilidade desse tema com IoT. O sensoreamento massivo proporcionado por soluções de Internet das Coisas, contribui sensivelmente para a melhoria desses modelos digitais.
Este é um mercado de US$ 6,9 bi que deve chegar aos US$ 73,5 bi até 2027
Um pouco de história…
A primeira vez que o conceito de Gêmeo Digital foi mencionado como tecnologia foi em 1991 no livro Mirror Worlds de David Gelernter. Um livro considerado por muitos como uma fascinante jornada a tecnologia computacional que estaria disponível em um futuro próximo.
Livro Mirror Worlds – Fonte: Amazon
A primeira aplicação que se tem notícia, usando gêmeos digitais na indústria, foi do Dr. Michael Grieves da Universidade de Michigan. Já o termo Gêmeo Digital só foi surgir em 2010 por John Vickers que trabalhava na NASA.
Falando em NASA, o conceito pré Gêmeo Digital foi usado lá pelas primeiras vezes. Na década de 60, a Agência Espacial Americana usava simulações e réplicas para entender o comportamento da espaçonave e dos astronautas no espaço. Na explosão de um tanque da Apolo 13, foi o resultado de diversas simulações quem ditou a estratégia do resgate já que a comunicação entre a Nave e o Centro de Comando tinha sido perdida. Deste episódio veio a famosa frase: “Houston we have a problem!”
Resgate tripulação Apollo 13 – Fonte: Flickr
Aplicações de Gêmeos Digitais
Listo aqui 5 importantes aplicações dessa tecnologia e alguns exemplos práticos:
- Design Virtual de Produtos e Testes: Por que construir um modelo físico de um novo produto se é possível modelá-lo virtualmente e fazer testes de viabilidade do produto? Imagine só como isso vem impactando a indústria automotiva e a contrução civil por exemplo!
Uma turbina e seu Gêmeo Digital – Fonte: Atria Innovation
- Monitoramento Remoto e Manutenção: Ter uma réplica de um equipamento, veículo ou edifício digitalizado, pode ser usado para reproduzir condições em tempo real e até acelerar o tempo no Gêmeo Digital para verificar como uma tendência se comporta.Simulação de uma fábrica de Automóveis – Fonte: Atria Innovation
- Otimização em Tempo Real: Uma vez entendido o comportamento de um evento através da sua simulação em tempo real, a correção imediata pode evitar acidentes maiores. Um exemplo de aplicação é em competições automotivas onde o carro de corrida pode ser chamado aos boxes para um ajuste fino durante a prova antes que o problema se torne maior.
- Simulação e Modelagem: usar protótipos para simular condições extremas de uso ou correção da modelagem pode estar com os dias contados. Gêmeos Digitais podem ser submetidos a testes severos sem colocar em risco a integridade física de pessoas e o desgaste de instalações físicas. Por exemplo é possível simular a pressão exessiva em uma bola de futebol e quais medidas podem ser tomadas para que no caso de uma explosão, a chance de machucar uma pessoa seja reduzida.
- Manutenção Preditiva e Controle de Qualidade: imagine duas linhas de produção de um frigorífico idênticas fisicamente. Em uma eu passo os cortes menos nobres para limpeza e preparação da embalagem e na outra os cortes chamados de primeira. Cada uma das linhas terá uma velocidade diferente de funcionamento até porque há um cuidado natural maior com as carnes de primeira. Porém ambas funcionarão a mesma quantidade de horas. Será que é adequado programar a manutenção das duas por tempo? Dois cenários podem estar acontecendo: está cedo demais para a linha que corre mais devagar ou tarde demais para a que corre mais rápido. Em ambos os casos, há prejuízo onde se poderia prever uma parada em tempos diferentes para cada linha somente quando a sua performance gerar mais prejuízo do que uma parada de manutenção.
Linha de corte de carnes (parecem contra flés) – Fonte: Poder 360
Depois dessa explicação toda, acho que vou recomendar ao meu colega ciclista a leitura desse artigo.
E você, está convencido de que os Gêmeos Digitais vieram para ajudar e não dominar o mundo? 😁
Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Diretor Especialista de Prática na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.
Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como LinkedIn Top Voice de Tecnologia & Inovação.
Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.
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