Confesso que posterguei a escrita desse artigo para poder criar corpo escrevendo sobre as demais tecnologias. Falar de Wi-Fi é igual discutir a escalação da seleção em tempos de copa: todo mundo conhece e todo mundo opina, cada um a sua maneira. Cometer um deslize nesse artigo é literalmente virar a vidraça na direção das pedradas.
Porém, como nas redes sociais eu tenho mais amigos do que inimigos, bora encarar esse desafio e contextualizar essa tecnologia que está presente na vida de todos nós conectados ao mundo digital.
Se você não leu, já publiquei quatro artigos. O primeiro: Qual a relação ente um Rei Nórdico do dente podre e a transmissão de dados sem fio?, sobre Bluetooth, sobre ZigBee: Você já ouviu falar em ZigBee? A chance de você estar usando sem saber, é grande!, outro falando de LoRa: Seria o LoRa a solução para todos os problemas de conectividade IoT? e o mais recente contando um pouco de Sigfox: Pequenos Pacotes e Grandes Alcances: Chegou a vez do Sigfox!
Essa jornada está sendo muito bacana e vem se aproximando do fim… Das tecnologias mais relevantes, só falta falarmos de redes celulares fazendo um wrap-up do 2G ao 5G passando pelos Cat-M1 e NB-IoT. Todos os assuntos que já falei bastante aqui, mas prometo compilar os conceitos para fechar essa série no próximo artigo.
Voltando ao Wi-Fi e já tentando explicar esse título, vamos falar de por que Golias? A penetração dessa tecnologia é tão grande que alguns analistas estimam que já temos 20, 22 bilhões de dispositivos Wi-Fi pelo mundo. Volte e leia novamente… São quase 3 devices Wi-Fi por habitante do planeta terra. Está aí a força do Golias!
Wi-Fi Logo – Fonte: Wikipedia
Um pouco de história e o porquê desse nome.
O Wi-Fi é um senhor de idade que está hoje em sua plena forma física e ainda tem “muita lenha para queimar”.
Segundo a história, sua criação é a resultante de 3 episódios históricos da tecnologia:
- A atriz americana Hedy Lamarr, que também era craque em tecnologia, criou um sistema de controle de torpedos via rádio que não era detectado pelo inimigo. Essa tecnologia usava FHSS (Frequency-Hopping Spread Spectrum);
- Um teste de envio de dados sem fio entre ilhas do Havaí chamado ALOHAnet no início dos anos 70;
- O WaveLAN, inventado pela AT&T e NCR para conectar caixas registradoras sem fio em 1991.
Esquema funcional do invento de Hedy Lamarr – Fonte: NYT
Em 1997 surgiu o padrão IEEE 802.11 chamado de Wi-Fi.
Sobre o nome Wi-Fi, as informações dizem que a sigla seria a abreviação de Wireless Field e que foi criado por uma agência de marketing a pedido da Wi-Fi Alliance, criada em 1999 como Wireless Ethernet Compatibility Alliance e rebatizada anos depois com o nome do seu padrão..
Um pouco de Tecniquês…
Apesar de já termos “escovado alguns bits” aí em cima, vamos falar um pouco mais dessa tecnologia que opera em 3 faixas de frequência: 2,4GHz , 5GHz e a mais recente 6GHz.
O padrão IEEE 802.11 evoluiu ao longo dos anos e suas variações foram registradas através de letras ao final do padrão. Vejam que bacana esse resumo extraído da Wikipedia acrescentando o release ac que não constava:
- IEEE 802.11: Padrão Wi-Fi para frequência 2,4 GHz com capacidade teórica de 2 Mbps.
- IEEE 802.11a: Padrão Wi-Fi para frequência 5 GHz com capacidade teórica de 54 Mbps.
- IEEE 802.11b: Padrão Wi-Fi para frequência 2,4 GHz com capacidade teórica de 11 Mbps. Este padrão utiliza DSSS (Direct Sequency Spread Spectrum – Sequência Direta de Espalhamento de Espectro) para diminuição de interferência.
- IEEE 802.11g: Padrão Wi-Fi para frequência 2,4 GHz com capacidade teórica de 54 Mbps.
- IEEE 802.11n: Padrão Wi-Fi para frequência 2,4 GHz e/ou 5 GHz com capacidade de 150 a 600 Mbps. Esse padrão utiliza como método de transmissão MIMO-OFDM.
- IEEE 802.11ac: Padrão WI-FI para frequência 5 GHz com capacidade de até 1 Gbps. Esse padrão utiliza como método de transmissão MU-MIMO-OFDM.
- IEEE 802.11ax: Padrão WI-FI para frequência 6 GHz e/ou 5 GHz com capacidade de até 9.6 Gbps. Esse padrão utiliza como método de transmissão MU-MIMO-OFDMA.
Talvez essa seja a hora do Wi-Fi ser um Davi, quando falamos das suas limitações.
Quanto a distância que o sinal de uma rede Wi-Fi pode chegar, eu aprendi lá na faculdade que quanto maior a frequência menor o alcance. Para arredondar as contas podemos dizer que distâncias de 100 metros em áreas abertas são possíveis e se amplificarmos o sinal pode passar de 200 metros.
Mas antes de mandar a pedrada e contar a história da rede Wi-Fi que funciona em X metros lembre-se que a propagação de sinal depende de muitos aspectos e cada caso é um caso.
Outra questão que o mercado fala muito é o handover entre antenas Wi-Fi. Diferentemente das redes celulares que já nasceram com essa capacidade, no Wi-Fi, isso foi implementado ao longo do tempo. Então aplicações sensíveis à perda de pacote que estiverem em devices que se movem em uma rede com várias antenas Wi-Fi, eventualmente irão sofrer com pequenas quedas no handover.
Ainda tem a questão dos canais úteis em 2,4 GHz, o famoso trio 1-6-11 e a possível sobreposição de todos os outros. Mas esse papo é mais longo e podemos deixar para os comentários ou outro artigo.
Quanto aos casos de uso, todos nós conhecemos diversos deles, pois usamos Wi-Fi a todo momento então não irei me aprofundar nessa exposição aqui.
A grande fortaleza do Golias Wi-Fi é a disponibilidade de equipamentos e soluções que utilizem essa tecnologia fazendo com que os preços desses devices sejam mais baixos que os usados em outras tecnologias de acesso sem fio.
Apesar de trafegar pacotes de dados em velocidades suficientes para habilitar muitos casos de uso, a cobertura, a confiabilidade na entrega de pacotes e a mobilidade são questões a serem analisadas.
Portanto, mesmo que seja a tecnologia mais usada globalmente, você concorda que ela não endereça todos os casos de uso?
Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Diretor Especialista de Prática na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.
Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como LinkedIn Top Voice de Tecnologia & Inovação.
Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.
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