Interagir com Inteligência Artificial é a nova Alfabetização?

Ao longo da história vivemos diversos saltos de inovação. Se eu me lembro bem de algum deles, provavelmente não ordem cronológica, tivemos o fogo, a organização das pessoas em sociedade, a religião, a roda, a escrita, a indústria e a transformação digital

Na sua teoria das espécies, Charles Darwin observou a adaptação das características dos seres vivos segundo o ambiente em que viviam. Pensando nos saltos mais recentes, e guardando a transformação digital para um segundo momento, vejo a alfabetização em massa como um importante divisor de águas.

Este movimento durou mais de um século, porém foi intercedido pela digitalização da sociedade. Desde Alan Turing, atingiu seu ápice nos últimos 30–40 anos. E novamente aparece um novo movimento: a Inteligência Artificial que apesar de já ser tão antiga quanto o movimento de digitalização, só encontrou nos algoritmos de IA Generativa a popularização da sua adoção.

Se saber ler, escrever e interagir com dispositivos e tecnologia digital se tornou imperativo em nossas vidas, será que a Inteligência Artificial é o próximo movimento obrigatório?

Apesar de existir há muitos séculos, o uso da escrita atingiu seu ápice nos últimos 150 anos com a alfabetização massiva da população. A Revolução Industrial, a era da Informação e a digitização / digitalização de várias rotinas do nosso dia a dia certamente aceleraram esse processo.

Pense em uma pessoa que atualmente tem limitações com leitura e escrita. Sua interação com o mundo a sua volta é cercada de barreiras. Como os índices de alfabetismo são elevados, é até difícil pensar em alguém que não lê ou escreve.

Mas vamos avançar no exercício e pensar em pessoas que não tem letramento digital. Certamente ela tem dificuldades em se deslocar, cuidar da sua vida financeira, trabalhar se informar e até em se comunicar com outras pessoas. Muitos de nós vivemos isso em casa com nossos pais e avós. Quantas vezes eu já ouvi de algumas pessoas que haviam decidido em não usar aparelhos celulares e computadores…

Mas a evolução é cruel e muitas delas acabam cedendo. Meu pai era um desses que nem celular tinha. O gatilho para sair da zona de conforto foi entender que ele só iria conseguir se comunicar com os amigos dos tempos de colégio que estão dispersos mundão afora se ele tivesse um celular com WhatsApp. Mas ainda se recusa a usar tudo o que o aparelho pode facilitar a sua vida.

Fonte: Celular Pro

 

O início dos anos 2020 foram marcados pelo surgimento dos algoritmos de IA Generativa. Foi curioso e engraçado ver como nós brasileiros degustamos essa tecnologia. Perguntas sobre futebol e seus prints reinaram absoluto por algum tempo.

Passados alguns anos, estima-se que um quarto da população brasileira economicamente ativa usa esses algoritmos em suas atividades laborais. Extrapolando para os mais de 215 milhões de pessoas que vivem em nosso país eu ouso a dizer que a porcentagem é muito maior.

Algoritmos de Inteligência Artificial estão embebidos em diversos aplicativos, chatbots e até no core dos nossos dispositivos móveis, tablets e computadores pessoais. O que me faz concluir que a maioria usa sem sequer saber.

Muitos podem dizer que a IA é perigosa e irá roubar os nossos empregos. Eu acredito que sim, e vai ocupar o lugar de muitas funções hoje realizadas por pessoas. Em tarefas repetitivas e conectadas a correlação de dados, esses algoritmos são muito mais precisos e rápidos do que nós.

Mas, por outro lado, penso que uma janela de oportunidades se abriu. Aqueles que entenderem que IA Generativa veio para nos ajudar a fazer um uso mais eficiente do nosso tempo terceirizando e automatizando tarefas rotineiras, irão se destacar. Com mais tempo para pensar, as pessoas que entenderam isso já estão impulsionando suas carreiras e se destacando no mercado de trabalho. Sem contar o ganho de produtividade que estão tendo.

Fonte: Tiraduvida

 

O mesmo em suas atividades pessoais. Recentemente estava de férias e no terceiro dia em uma cidade eu resolvi usar um desses prompts de GenAI para fazer o roteiro de passeios daquele dia. Contei para o algoritmo que já era meu terceiro dia naquela cidade e que já tinha visitado as atrações centrais. Também disse que, excepcionalmente naquele dia, estaria com um carro alugado.

Então pedi a ele que me sugerisse locais para visitar baseados nessas premissas. Em segundos ele me listou uma meia dúzia de lugares organizados por proximidade, um breve resumo de cada um e links para os artigos de onde extraiu a informação. Se eu fosse fazer isso sozinho, certamente gastaria mais de uma hora. Mas entre perguntar e ler a resposta foram 5 minutos tomando café da manhã. Menos tempo de pesquisa e mais tempo de lazer.

E aqui está a minha reflexão principal nesse artigo: será que interagir com Inteligência Artificial é a nova Alfabetização e, daqui a algum tempo, que não me parece muito distante, teremos pessoas fluentes em Inteligência Artificial e outras não?

Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Diretor Especialista de Prática na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.

Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como LinkedIn Top Voice de Tecnologia & Inovação.

Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.

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