Do Centro às Pontas: A Nova Geografia dos Datacenters.

Olhando para os artigos sobre Datacenter que figuraram nas últimas semanas por esta newsletter, a impressão que fica para quem não conhece o tema profundamente é que eles são grandes monolitos, localizados nas regiões dos grandes centros urbanos.

Desde o princípio e por um bom tempo, essa estratégia foi verdade. Ela se assemelhava àquela metáfora popular que falava sobre pôr todos os ovos em uma grande cesta.

Grandes empresas construíram Datacenters gigantescos e com uma infraestrutura tão complexa quanto aquela que discutimos no artigo anterior: Anatomia de um Datacenter: Os Bastidores do Mundo Digital.

Mas o mundo muda na velocidade de um piscar de olhos. A aceleração da Transformação Digital fez com que gerássemos cada vez mais dados, com uma necessidade de processamento em tempo real.

Outro ponto a ser observado é que, com a maturidade da tecnologia, regulamentações foram criadas para salvaguardar interesses de indivíduos, do mundo corporativo e de países. Parece que uma grande cesta de ovos não atende mais a necessidade dos ávidos geradores e consumidores de dados.

Regionalizar Datacenters não me parece uma tendência, mas sim uma resposta estratégica à demanda que pauta a nova realidade da Transformação Digital. Não se trata apenas de espalhar infraestruturas por aí, mas sim de repensar a maneira como processamos, armazenamos e protegemos dados.

Bora desvendar a importância da Regionalização dos Datacenters?

Por Que Regionalizar?

Este movimento de regionalização, como discutimos na introdução deste artigo, foi motivada por alguns drivers de mudança importantes. O principal deles é a experiência do usuário. A busca pelas informações em tempo real não permite que tenhamos dados distantes fisicamente das pessoas, pois isso incrementa latência – o famoso atraso no fluxo de informação digital.

Para ilustrar, cito um exemplo que é parte da minha rotina: agendar horários em academias naqueles aplicativos que te permitem acessar várias delas. Se ao buscar disponibilidade, o aplicativo ficar “relojando”e demorar a trazer uma resposta, além de lentidão no próprio aplicativo, o problema pode ser que ele esteja hospedado em um datacenter muito longe de quem usa – a latência que falamos acima.

Outro ponto que coloca a regionalização no foco é a soberania dos dados e a aplicação de regulamentações locais como condição de operação. Muitos países não permitem que os dados de instituições financeiras e suas concessionárias de utilities (água, energia e gás) sejam processados fora do país.

Resiliência Operacional também é uma justificativa interessante. Ao invés de concentrar os ovos em uma mesma cesta, distribuí-los pode mitigar o risco de termos interrupções completas.

Por fim, outro ponto que pega é a transmissão. Com toda essa crescente demanda por dados, os volumes movimentados também podem crescer caso não haja uma regionalização e isso causar, além de um uso desnecessário de meios de transmissão, um alto custo desses links. Quanto mais perto o dado, mais barata é a transmissão.

Estratégias para um Brasil Continental e Digital

No contexto brasileiro, essa abordagem ganha contornos especialmente estratégicos, considerando as dimensões continentais e a complexidade do ecossistema digital nacional. Cada uma das nossas regiões possui aspectos únicos que devem ser levados em conta na hora de construir e operar datacenters regionais:

  • Nordeste: Energia eólica abundante e incentivos fiscais. O custo de energia pode ser decisivo para que um caso de negócio feche a conta e incentivos fiscais podem ajudar ainda mais.
  • Sul: Infraestrutura tecnológica consolidada. A maturidade em tecnologia da região e a sua vocação produtiva, tanto no campo quanto nos grandes centros, têm potencial para atrair investimentos nessa área.
  • Centro-Oeste: Expansão do agronegócio digital. Apesar de autoexplicativo, o agronegócio é o principal catalisador de investimentos para essa região.
  • Norte: Potencial para edge computing na Amazônia. Prevenir incêndios, apoiar pesquisas científicas e superar os desafios de conectividade e dispersão geográfica são alguns bons argumentos.
  • Sudeste: Concentração de polos tecnológicos. Além de concentrar os maiores volumes de dados, os Datacenters que existem e ainda seguem em expansão têm a capacidade de processar os principais workloads que estão próximos à maioria da população brasileira e também de promover a resiliência dos demais Datacenters espalhados pelo país.

 

Em todas as regiões, a criação de novos Datacenter gera um impacto econômico regional com a geração de empregos especializados locais, a atração de investimentos e o fomento à criação de novos ecossistemas de inovação que se especializem em contextos locais.

Desafios

A Regionalização dos Datacenters não está isenta de desafios diversos. Os custos de implementação, que são altos e demandam grandes investimentos iniciais, devem ser pautados por muito planejamento e a clareza de que o foco do retorno é no longo prazo.

Se por um lado há um potencial para geração de empregos qualificados localmente, a especialização técnica também se coloca como desafio. Em muitas regiões do país, será necessário capacitar pessoas in loco, criando programas de treinamento especializados em parceria com o poder público, adaptando a conjuntos de competências regionais.

A conectividade ainda segue como um desafio, pois Datacenters precisam de conectividade e isso demanda robustez na sua construção física em um país de 8,5 milhões de km² como o Brasil.

Porém, o impacto nos negócios pode ser muito positivo se as características levantadas forem levadas em conta. A redução no TCO (Total Cost of Ownership) é um driver importante, seguido da criação de novos modelos de negócio com riscos operacionais mitigados. Sem contar as possibilidades de incentivo ao investimento em tecnologia que os Datacenters podem habilitar para as organizações regionais e suas estratégias de transformação digital.

Por que não dizer que temos uma vantagem competitiva sustentável frente a outros modelos?

Imagine um Brasil digitalmente integrado, onde cada região não apenas consome tecnologia, mas a produz e a irradia. A regionalização de datacenters não é uma escolha, é um chamado à transformação.

Sua organização está pronta para essa jornada? O próximo passo é simples: comece a pensar além do centro, olhe para as pontas. Sua estratégia digital depende disso.

Quer saber como iniciar essa transformação em sua empresa? Vamos conversar!

Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Diretor Especialista de Prática na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional, tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.

Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como LinkedIn Top Voice de Tecnologia & Inovação.

Durante minha carreira, trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.

Artigos relacionados:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *