Janeiro para mim foi o mês dos Datacenters! Se tem gente brincando que já estamos no dia 899 de janeiro de 2025, posso garantir para vocês que passei boa parte desse mês pensando no que escrever numa série de artigos de Datacenter.
Começamos entendendo porque os Datacenters são a parte física do mundo digital. Passamos pelos principais vetores de crescimento dos Datacenters atualmente: 5G, Edge Computing, IA e IoT e, por fim, fizemos uma interessante comparação entre um Datacenter e o corpo humano.
Ainda flertando com as comparações metafóricas, vou me aventurar a falar um pouco sobre sustentabilidade. Por favor gente, poucas pedradas tá? Este assunto divide opiniões e como sempre eu quero trazer uma pitada de tecnologia para enriquecer o debate.
E já que estamos falando em Sustentabilidade, por que não comparar um Datacenter, com uma floresta, já que se o primeiro busca ser cada vez mais verde, bora comparar com o ecossistema mais verde de todos?
Por que uma Floresta?
Pense que uma floresta é um ecossistema muito bem equilibrado. Cada um dos seus elementos contribui para a harmonia – ou sustentabilidade do todo. Os Datacenters mais modernos têm evoluído a passos largos para serem verdadeiros ecossistemas digitais sustentáveis.
Com toda a demanda que exploramos nos artigos anteriores, a criação de novos Datacenters para atender essa nova demanda de capacidade computacional para processar esses dados que coletamos, consome mais e mais energia. Segundo relatório da International Energy Agency de 2023, todos os Datacenters do planeta juntos já consomem 1% de toda a energia disponível e podem chegar a um patamar de consumo entre 3 e 8% até 2030!
Mas será que essa comparação entre a natureza e a tecnologia é sustentável?
O Solo Fértil: Infraestrutura Base
Começando pelo começo, já na construção um Datacenter já começa o seu alicerce sustentável. Deigns de construção bioinspirável podem trazer reduções de até 25% no consumo de energia.
Para você que não sabe o que é bioinspirável, é mais ou menos o que você está pensando… Designs inspirados na natureza. Alguns exemplos bacanas desse tipo de conceito:
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Ventilação Natural Inspirada em Cupinzeiros: esse tipo de design com um complexo sistema de ventilação pode manter temperatura e umidade constantes. Um exemplo disso é o Datacenter Eastgate Centre em Harare, Zimbabwe, que usa 10% da energia de um edifício convencional.
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Estruturas em Colmeia: a eficiência espacial das abelhas ao construírem suas colmeias é o tom dessa arquitetura. O fluxo de ar hexagonal promete melhor circulação de ar em espaços com maior densidade de equipamentos.
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Resfriamento Inspirado em Folhas: pense nos seus sistemas vasculares para distribuição de refrigeração líquida e ajudar a dissipar o calor.
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Adaptação Climática dos Cactos: estratégias de conservação de água.
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Cardumes e o controle do fluxo de ar: pensado observando o movimento eficiente de peixes em grupo.
Outro exemplo é o Google, que utiliza machine learning para otimizar seu sistema de resfriamento. Isso faz com que o consumo de energia seja 40% menor em suas instalações (Google Sustainability Report, 2023).
As Raízes: Energia
A fonte de alimentação dos Datacenters e da natureza vale a comparação. As linhas de transmissão de energia e as raízes que trazem nutrientes e água para as plantas. Há um forte movimento das empresas de Datacenter em direção à energia renovável.
Por exemplo, a Microsoft atingiu 100% de energia renovável em suas operações globais em 2023, enquanto a Amazon é o maior comprador corporativo de energia renovável no mundo, com mais de 20 GW de capacidade contratada. Já o Google tem operações de carbono neutro desde 2007.
O Ciclo da Água: Resfriamento
Com todo esse processamento de dados acontecendo dentro dos Datacenter, o que mais se gera é calor. Por isso, 40% do consumo energético de um Datacenter tradicional é destinado ao resfriamento. Sistemas inovadores de resfriamento estão transformando este cenário:
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Fluído dielétrico: pode economizar até 90% da energia quando comparado com sistemas tradicionais. Servidores estão imersos nesse fluido que tem um ciclo de evaporação e condensação influenciado pelo calor.
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Resfriamento natural: aproveitando a água ou o ar para resfriamento do Datacenter. Os Datacenters nórdicos do Facebook são exemplos disso.
Tais técnicas podem levar o WUE (Water Usage Effectiveness) de um range de 1,8-2,5 l/kWh para 0,2-0,7 l/kWh.
A Fotossíntese: Eficiência Energética
Achou que esse fenômeno que você aprendeu lá na aula de ciências iria Faltar? A eficiência energética é medida principalmente pelo PUE (Power Usage Effectiveness). A captação da energia por placas solares, ventiladores eólicos ou hidroelétricas tem que ser tão eficiente quanto as folhas de uma árvore.
Já o processamento da energia tem que ser tão inteligente quanto o cloroplasto, que transforma energia em nutrientes.
O Ciclo de Nutrientes: Economia Circular
A gestão de resíduos eletrônicos e o reaproveitamento de recursos são cruciais. Além do descarte adequado dos equipamentos obsoletos ou defeituosos, também há todo o lixo gerado pelos envólucros de transporte desses equipamentos e seus acessórios. Tal qual acontece no ciclo de nutrientes de uma planta, que são consumidos e renovados o tempo todo.
A Biodiversidade: Inovações Emergentes
Tecnologias emergentes estão redefinindo a eficiência. Assim como na biodiversidade, existe uma ampla gama de soluções que podem ajudar nesse caminho verde:
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Computação quântica verde: grande potencial para mudar a dinâmica do mercado. Redução no espaço ocupado, menor consumo de resfriamento e energia.
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A adoção de Edge Computing impulsiona a regionalização dos Datacenters onerando menos as redes de transmissão de dados. Com a energia sendo consumida perto da geração, também podemos ter ganhos.
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Materiais biotecnológicos também podem mudar essa dinâmica:
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Chips biodegradáveis (Stanford University, 2023)
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Compostos destinados à refrigeração naturais e que não sejam tóxicos.
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Substratos de computação orgânica: substituir componentes como o silício na impressão de chips por carbono, por exemplo.
O Guardião da Floresta: Métricas e Certificações
O papel do “Guardião da Floresta” em Datacenters modernos não é mais zelar apenas pelas métricas – é sobre garantir um equilíbrio sustentável entre performance e impacto ambiental. As organizações líderes deste mercado estão criando e seguindo novos padrões focados em excelência operacional e responsabilidade ambiental.
Certificações Relevantes:
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LEED Platinum
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ISO 50001
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Energy Star
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Carbon Trust Standard
Dicas Finais
Deixo aqui algumas metas para organizações que buscam iniciar sua jornada de sustentabilidade em Datacenters:
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Estabeleça sua linha base de métricas (PUE, WUE, CUE).
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Defina metas claras alinhadas com benchmarks da indústria.
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Invista em tecnologias verdes e energia renovável.
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Implemente sistemas de monitoramento em tempo real.
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Busque certificações relevantes.
A transformação dos Datacenters em ecossistemas sustentáveis não é apenas uma tendência, mas uma necessidade urgente. É possível aliar alto desempenho com sustentabilidade? Sim!
Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Diretor Especialista de Prática na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional, tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.
Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como LinkedIn Top Voice de Tecnologia & Inovação.
Durante minha carreira, trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.
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