Talvez eu esteja escrevendo sobre um assunto que tirando os meus colegas experts do mercado de telecom, pouca gente tenha conhecimento – que é como uma chamada de voz funciona nas tecnologias 4G/5G.
Temos falado tanto no incremento de velocidade e diminuição da latência com a chegada do 5G, que as chamadas de voz caíram quase que no ostracismo: estão lá, funcionam, então não tenho que me preocupar com isso.
Pois saiba que a evolução das chamadas de voz é um passo importante para a expansão de cobertura das redes 4G e 5G aqui no Brasil e globalmente.
O 4G e o 5G, além de serem gerações de telefonias muito focadas em dados, não herdaram de seus antecessores o esquema de comutação por circuitos que existe no 2G e 3G e até em tão vem se beneficiando dessas redes legadas para fazer suas chamadas de voz em boa parte das ligações efetuadas.
Quando no 4G e no 5G não estão habilitadas as funcionalidades chamadas de Wi-Fi calling – VoLTE (Voice over Long Term Evolution) e VoNR (Voice over New Radio) respectivamente, a saída para que as chamadas se completem é que o telefone “derrube” seu sinal para 2G ou 3G durante a duração da chamada e retorne logo após. Isso faz com que o terminal ocupe temporariamente outras faixas de frequência: 700 MHz, 1,8 GHz, 2,1 GHz ou 2,6 GHz.
VoLTE Logo – Fonte: daneelyunus
Isso faz com que enquanto todos os terminais não suportem Wi-Fi Calling e as operadoras não tenham preparado suas redes e core integralmente, tenhamos que manter essas redes de geração anterior funcionando.
Na minha época de faculdade aprendi que quanto menor a frequência, maior o alcance. Então em termos de cobertura, as faixas mencionadas podem performa melhor que o 5G que está na faixa dos 3,5 GHz.
Portanto, a ativação de Wi-Fi Calling se faz necessária para liberar espectro a ser ocupado pelas novas gerações de telefonia celular. Generalizando um pouco, esse é o caminho que tem sido seguido globalmente: ativações passivas das features de Wi-Fi calling e gradual desligamento das redes 2G e 3G.
VoNR – Fonte: 5G Americas
Mas como o nosso Brasil não é um país para amadores, temos outros desafios a serem superados antes de seguirmos integralmente esse caminho. O primeiro deles é que em muitos municípios ainda não temos cobertura 4G das operadoras – variando caso a caso.
O outro é o que chamamos de M2M – ou comunicação máquina – máquina que para os casos onde os dados transmitidos são pequenos pacotes, ainda se usa terminais e a rede 2G para esse tipo de tráfego. Um exemplo disso são as famosas maquininhas de cartão de crédito (POS) – uma parte delas ainda funciona com 2G.
O Leilão do 5G funcionou como um empurrão para o 4G também. Se por um lado existe a obrigação de cobertura das sedes municipais que tem mais de 20 mil habitantes com 5G, também há uma obrigação com 4G para os demais municípios. Portanto, espera-se que no pior caso, em 2027 tenhamos todos os municípios cobertos com 5G e possamos concluir o desligamento do 3G e quem sabe já com a questão do M2M resolvidos.
Quem ganha com tudo isso? Nós! Ao usarmos Wi-Fi calling, a qualidade das ligações de voz aumenta drasticamente, chamada de “voz HD”. Por outro lado, a liberação das frequências que estavam em uso até então, podem habilitar casos de uso que dependam de grandes coberturas – beneficiando-se das redes com operação em faixas de frequência mais baixas que o 3,5 GHz do 5G.
Já pensou o que a faixa de 700 MHz com 5G pode fazer pelo agro, por exemplo?
Como spolier, chamadas de voz em HD, podem habilitar novos casos de uso como, por exemplo, monitorar o tom de voz das pessoas com mais precisão e em conjunto com algoritmos de Inteligência Artificial, tomar decisões em uma ligação baseadas nas emoções do interlocutor.
E você, conhecia todas essas questões sobre o impacto das chamadas de voz na evolução das redes celulares?
Publicado originalmente em mauroperiquito.com
Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Associate Partner na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.
Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como Linkedin Top Voice de Tecnologia & Inovação.
Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.
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