“É verdade, deu no rádio!” Esta é uma frase muito popular do século passado. A chegada do rádio no Brasil, cerca de cem anos atrás, mudou radicalmente a dinâmica com a qual as pessoas se divertiam ou consumiam informação.
Se até então a única fonte de informação das pessoas era o jornal e os meios de comunicação ainda eram restritos, sistemas de telégrafo e telefones, a velocidade de transmissão de informações ainda era muito dependente deste fluxo de recebimento de informações, editoração, impressão e venda de jornais.
Isso fazia com que informações demorassem dias, semanas e até meses, dificultando o acesso à informação e notícias. Já o entretenimento também era bastante complexo, pois em paralelo com a chegada do rádio também havia um movimento de popularização das vitrolas e seus discos de 78 rpm com uma faixa musical.
Então imagine que, de uma só vez, a proposta do rádio era trazer para dentro dos lares informação e entretenimento juntos, eu uma transmissão sem fios e em tempo real. Uma revolução, concorda?
A Chegada do Rádio no Brasil
Um tanto quanto polêmica é a invenção do rádio, que atualmente se credita a Guglielmo Marconi, porém com muita contribuição de Nicola Tesla, Heinrich Hertz e muitos outros.
A história de Marconi cruzou com a do nosso país em um episódio curioso anos depois da chegada do rádio no Brasil e eu trouxe um pouco disso neste artigo: Qual a relação entre a invenção do rádio e o Cristo Redentor?
Outra face desta história é o protagonismo de um brasileiro: Padre Landell de Moura, que praticamente sozinho fez uma a primeira transmissão sem fio de voz no início do século XIX em São Paulo.
Se quiser saber um pouco mais sobre esta história, veja um dos meus artigos preferidos: Foi um padre brasileiro o inventor do rádio?
Voltando a chegada do Rádio no Brasil, o ano era 1922: centenário da independência do nosso país. Para comemorar este marco, fizeram a Exposição Internacional do Centenário da Independência. Este evento, que foi realizado no Rio de Janeiro, foi tão grandioso que até uma avenida foi construída para sediá-lo: Av. das Nações, atual Av. Presidente Wilson.
14 países e todos os estados brasileiros constituídos naquela época montaram pavilhões ao longo da avenida para esta feira que durou entre 1922 e 1923. A inauguração da exposição, por razões óbvias, foi no dia 7 de setembro de 1922.
O discurso de Inauguração da Exposição, feito pelo presidente Epitácio Pessoa, foi transmitido via rádio. Ele estava acompanhado dos Reis da Bélgica Alberto I e Isabel. Dizem que o ruído na exposição era tanto que o discurso, transmitido por alto-falantes instalados ao longo da feira, foi difícil de ouvir.
Mais tarde, naquele mesmo 7 de setembro de 1922, foi transmitido via rádio a ópera O Guarani de Carlos Gomes, que estava sendo tocada por uma orquestra no Teatro Municipal. Esta, sim, causou espanto na população: imagine você ouvir ao vivo uma ópera que está sendo tocada em uma sala fechada a pelo menos uns 500 metros de distância.
Mas como esta transmissão foi possível?
Os Estados Unidos investiram pesado na exposição, construindo um pavilhão que no futuro abrigou a embaixada americana no Rio de Janeiro. A empresa americana Westinghouse trouxe para a exposição os equipamentos da rádio, instalou uma antena no alto do Morro do Corcovado, local onde em 1931 seria inaugurado o Cristo Redentor.
Cerca de 80 receptores foram espalhados pelo Rio de Janeiro, Niterói, Petrópolis e até São Paulo. A partir deles, alto-falantes foram instalados para que a população pudesse ouvir as transmissões.
O Brasil, reafirmando seu pioneirismo nas comunicações, tinha no país transmissões experimentais de rádio muito antes da maioria dos demais países. As primeiras transmissões de rádio como entretenimento e com programação regular que se tem notícia, foram feitas nos EUA, Holanda e na Argentina por volta de 1920.
Em Buenos Aires, por exemplo, a antena localizada no telhado do Teatro Coliseu transmitiu a ópera Parsifal de Richard Wagner.
A Instalação da primeira rádio no Brasil
Edgar Roquette-Pinto, considerado o pai da radiodifusão brasileira, educador e cientista, trabalhou ativamente para viabilizar esta primeira transmissão de rádio em 1922. Ele ainda tentou convencer o governo brasileiro de adquirir os equipamentos dada a sua visão muito pioneira para a época:
Para nós, o ideal é que o cinema e o rádio fossem, no Brasil, escolas dos que não têm escola. (…) O rádio é o jornal de quem não sabe ler. É o mestre de quem não pode ir à escola. É o divertimento gratuito do pobre. É o animador de novas esperanças. O consolador dos enfermos e o guia dos sãos, desde que o realizem com espírito altruísta e elevado.
Sem sucesso em sua empreitada de convencimento, com Henrique Morize, presidente da Academia Brasileira de Ciências, adquiriu os equipamentos e em 20 de abril de 1923 era fundada a Rádio Sociedade – a primeira rádio do Brasil! Em 1936, ela foi doada ao governo e renomeada como rádio MEC – existente até hoje.
A partir daí a radiodifusão brasileira desempenhou um papel importante no entretenimento e jornalismo brasileiro. Mesmo com esta onda de inovação e transformação digital que vivemos diariamente, o rádio segue presente em nossos carros, lares e até nos aparelhos celulares.
Você conhecia a história do rádio no Brasil?
Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Diretor Especialista de Prática na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.
Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como LinkedIn Top Voice de Tecnologia & Inovação.
Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.
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