Dinheiro novo é o combustível dos novos projetos?

CNTP: Condições Normais de Temperatura e Pressão é o ambiente onde: “Volumes iguais, de gases diferentes, quando medidos à mesma temperatura e pressão, possuem o mesmo número de moléculas.” (Lei de Avogrado) Os parâmetros estabelecidos são zero graus celsius de temperatua e um bar de pressão.

Nós, os meros mortais, inspirados pela teoria de grandes químicos da humanidade, costumamos dizer que quando em CNTP, estamos em um ambiente ideal. Pensando no tema central deste newsletter: tecnologia, neste mundo ideal, todo novo projeto requer um novo investimento.

Mas como não vivemos neste mundo ideal, a afirmação do título desse artigo nem sempre é verdadeira e, pensando bem, tem dado espaço a outra estratégia: buscar opções alternativas para financiar novos projetos. Guerra, variação cambial, polarização política, preço do petróleo, escassez de semicondutores, juros altos – tudo isso contribui para este cenário desafiador em que estamos inseridos.

Bora entender como encontrar maneiras de subsidiar projetos?

O famoso Business Case

Invariavelmente, ao conversar com os clientes, a conversa sempre circula sobre a dificuldade em aprovar novos projetos. Em alguns casos, caso se prove que aquela iniciativa pode gerar um ganho de eficiência operacional, o investimento é aprovado. Mas na maioria das vezes, o desafio colocado tem sido como encontrar esses fundos dentro do que já existe.

Para isso temos que construir um Business Case, que nada mais é do que um documento ou apresentação que justifique um projeto ou iniciativa. Ele não inclui apenas benefícios financeiros, como o retorno do investimento ou incentivos fiscais. Traz também benefícios estratégicos como, por exemplo:

  • Fortalecimento da Marca;

  • Vantagem competitiva;

  • Adesão a tendências do mercado;

  • Diversificação de produtos e/ou serviços.

E benefícios operacionais:

  • Redução de custos;

  • Aumento da satisfação do cliente;

  • Melhora na qualidade dos produtos;

  • Acelerar lançamento de novos produtos ou serviços;

  • Aumento de produtividade.

Colher os resultados dos benefícios operacionais e estratégicos pode levantar os fundos necessários para subsidiar o projeto.

Vou citar um exemplo simples, mas que gosto muito. Certa vez em uma operação de saneamento discutíamos como eliminar a presença de operadores em certas estações de bombeamento de esgoto a vácuo – algo por si só bastante complexo – onde eles, além de operar os equipamentos, precisavam monitorar a performance e alterar o regime de operação conforme a carga e o período do dia.

Em cada turno de 8 horas um operário seria suficiente para operar a estação, porém regras de saúde e segurança do trabalho exigiam que sempre tivesse um segundo operador o tempo todo como resguardo do primeiro.

Cada vez que fui visitar essas estações vi os operários deitados no chão grudados na tela de seus celulares. As operações executadas por ele no sistema eram poucas e de longe conseguiam supervisionar os sistemas a fim de tomar uma decisão de mudar o regime.

Estação de bombeamento de esgoto – Fonte: netsolwater

Aquilo me incomodava bastante, pois em várias outras áreas faltavam recursos para atividades mais intensas e as restrições de headcounts que vocês conhecem bem, nos impediam de aumentar o time.

Fizemos as tomadas de preço da solução de automação e conexão remota para cada estação, contrapusemos com o custo dos 8 operários que tínhamos nos turnos e folgas. O projeto se pagava em menos de 2 anos em um horizonte de 10 de operação, ou seja, colheríamos 8 anos de resultados positivos e poderíamos usar os recursos para melhorar a qualidade de outros serviços. Era um business case de duplo ganho operacional, sem contar o alívio em termos de segurança das pessoas evitando estar em uma estação insalubre.

Desafios e oportunidades

Tenho certeza que se procurarmos desafios como o colocado acima, vamos encontrar potenciais business cases como o descrito acima em qualquer organização. Porém, existem desafios a serem superados para tornar essas iniciativas em projetos:

  • Gestão de Stakeholders: uma boa parte dos decisores que analisarão esse business case não são da área de tecnologia. Portanto, explicar de maneira clara e com o discurso ajustado a realidade de cada um pode ser decisivo. Ao financeiro, mais números. Para o RH, planos para as pessoas. Para o time de segurança do trabalho, garantir a proteção das pessoas.

  • Curto vs longo prazo: o exemplo que eu trouxe acima ilustra bem essa abordagem. Precisávamos antecipar gastos de 2 anos para após esse período colher a eficiência prometida. A depender do momento da empresa, esse tipo de abordagem pode ou não ser aprovada.

  • Resistência com as mudanças: “Para que mudar se funciona bem assim?” É raro, mas trabalhando com esse tipo de abordagem esse questionamento deve aparecer bastante. Ao desafiar o negócio em implementar casos de eficiência operacional, encontraremos resistência por diversos motivos como desconfiança sobre a tecnologia e medo de perder o emprego. Envolver as pessoas desde as provas de conceito e fazê-las parte do processo pode ajudar na adoção.

  • Medição complexa: esse ponto é recorrente… Será que conseguiremos coletar os resultados prometidos no business case? Muitas vezes a projeção não foi construída corretamente ou a maneira de medir é tão complexa que se torna inexequível. Ajustar o plano e testar a medição durante a prova de conceito podem mitigar este risco.

Existem outros tantos desafios. O papel do ecossistema de tecnologia (startups, hyperscalers, consultorias e fabricantes) é suportar a área de TI a mitigá-los, a fim de que não coloquem em risco a viabilidade da iniciativa.

Bora criar esses business cases que podem ajudar o negócio a ser mais eficiente?

Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Diretor Especialista de Prática na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.

Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como LinkedIn Top Voice de Tecnologia & Inovação.

Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.

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