Imagine a seguinte situação: 100 anos atrás um restaurante anuncia que tem serviço de entregas e em sua propaganda coloca um número de telefone. Várias curiosidades vêm a minha cabeça referente ao comportamento naquela longínqua década de 1920:
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As pessoas tinham o hábito de receber comida em casa?
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Quanto tempo demorava entre o pedido e a entrega?
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Era possível fazer um pedido para entrega imediata ou seria sempre agendada?
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Como se locomovia o entregador?
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As entregas podiam ser feitas via telefone ou somente no balcão?
Por um ato falho meu, eu não salvei a propaganda centenária que me inspirou a escrever esse artigo. Mas como a situação não é difícil de imaginar, vamos adiante!
Voltemos aos tempos de hoje… Pense nas mesmas perguntas. Elas são todas pertinentes ou existem novas perguntas a serem respondidas. A “culpa” dessa mudança é a transformação digital. Bora pensar juntos nessa revolução logística?
Voltando para a década de 1920…
Descobri que em 1920 existiam em São Paulo cerca de 14 mil linhas telefônicas que ainda necessitavam de uma telefonista para completar uma chamada. Então para uma pessoa ligar para esse restaurante, entrava em contato com a telefonista, pedia a ligação e desligava. Uma vez feito todo o caminho, os dois terminais eram conectados. Essa atividade poderia levar minutos e às vezes mais do que uma hora, a depender da quantidade de solicitações de chamada ativas.
Dito isso, se você não era um dos 14 000 sortudos, dentre os 500 000 habitantes de São Paulo, que tinham telefone e paciência de esperar, imagino que a solução era passar com antecedência no restaurante e agendar a entrega. Trazendo para a nossa realidade, isso poderia significar que nós para comer uma pizza sexta-feira à noite, deveríamos ter essa “vontade” na manhã de sexta-feira para passar no restaurante, fazer o pedido e agendar a entrega.
Sobre o entregador e seu veículo, em 1920 tínhamos no estado de São Paulo 5 mil carros e 1 ano do início da produção do Ford Bigode, ou modelo “T” — o primeiro modelo produzido no Brasil. Por isso imagino que as entregas não eram feitas de carro também.
Restam 3 possíveis maneiras de locomoção: a cavalo, a pé ou de bicicleta que somadas a qualidade do pavimento das ruas, tornava as entregas um grande desafio.
A Tecnologia e a Mudança
Em 1928 a primeira central de comutação automática foi instalada em SP na região chamada Palmeiras. Começava aí a se resolver a questão do atraso nas chamadas. Era só fazer como hoje: discar e imediatamente se conectar com a outra ponta da chamada.
Em paralelo a isso, a adoção gradual dos telefones fixos impulsionou os serviços de entregas que poderiam ser solicitadas sem que a pessoa fosse até o comércio que tinha o produto que ela desejava.
Por outro lado, a popularização do automóvel, das motocicletas e o transporte rodoviário ampliou o prisma da área de entrega. O que cem anos atrás parecia ser uma entrega limitada a uma região de uma cidade, hoje chega a qualquer extremo do planeta Terra….
Se foi o telefone que deu o primeiro impulso nas entregas, eu posso afirmar que ele deu outra acelerada nesse mundo logístico. Em 2013, com a Copa das Confederações batendo na nossa porta, foi lançado o 4G no Brasil e com ele tivemos acesso a aplicativos que sequer imaginávamos existir e uma poderosa ferramenta de comunicação: o WhatsApp.
Se você é daqueles que acha que pouco mudou do 3G para o 4G, te deixo aqui um desafio: configure seu celular para funcionar em redes 3G somente e tente usar um app de pedido de comida ou um market place. Se não funcionar, tente também mandar uma foto do que você quer para a empresa via WhatsApp.
Os aplicativos, as ferramentas de comunicação e as redes sociais revolucionaram a logística desde o pequeno consumidor até o grande atacadista.
Os sistemas de informação geográfica, ou GIS, como são conhecidos no mercado, trouxeram o próximo salto para esse mercado: a possibilidade de traçar rotas mais eficientes para as entregas e ter mais controle sobre a geolocalização dos entregadores e suas entregas.
Além dessa possibilidade de mais controle sobre o processo de entrega, a análise de todos os dados gerados nessa fase do processo, traz informações relevantes para as estratégias dos operadores logísticos, podendo programar com mais previsibilidade a sua estratégia de movimentação de pacotes.
O último salto é a introdução da Inteligência Artificial. Se beneficiando da sua capacidade de cruzar e interpretar dados, já existem empresas que analisam o comportamento dos seus clientes em seus marketplaces e a depender do comportamento, enviam o produto para o cliente antes mesmo dele concluir a compra. Isso pode reduzir a velocidade de expedição e fazer com que a encomenda chegue no cliente antes do esperado por ele, porém com menor custo.
Posso ainda seguir falando de toda essa cadeia global logística, a mudança de comportamento do comprador, que experimenta pessoalmente e compra online, e a consequente transformação dos pontos de venda em estoques mais próximos do cliente e a mudança de loja para centro de experiência da marca para o cliente.
O que te impressiona mais: como a logística funcionava 100 anos atrás, ou como ela se transformou até chegar nos dias de hoje?
Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Diretor Especialista de Prática na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.
Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como LinkedIn Top Voice de Tecnologia & Inovação.
Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.
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Bibliografia: