Qual a relação ente um Rei Nórdico do dente podre e a transmissão de dados sem fio?

Antes de responder, queria contar para vocês que depois de uma pausa na “escovação de bits” por aqui vamos voltar a mergulhar mais uma vez na tecnologia e descomplicá-la.

Começo hoje uma série sobre tecnologias sem fio. A ideia é trazer um pouco de história, tecnologia e casos de uso de cada uma delas. Mas sobre quais você vai falar? Por enquanto: Bluetooth, Wi-Fi, LoRaWAN, Sigfox, ZigBee e Redes Celulares. Sentiu falta de alguma? Fique à vontade para sugerir nos comentários!

Então vamos ao que interessa: começando a responder a pergunta do título, o nosso assunto de hoje é Bluetooth! E a razão é muito nobre… Esse mês de maio, essa tecnologia completa 25 anos de existência.

Um pouco de história…

O Bluetooth surgiu diante de uma ideia que tem em sua aplicação o caso de uso mais comum que vemos atualmente: fones sem fio. Foram anos de desenvolvimento que envolveram diversos fabricantes até que em maio de 1998 surgiu formalmente a aliança que até hoje cuida do padrão Bluetooth.

Porém, com o desenvolver dessa tecnologia, notou-se que ela poderia ser um padrão aberto de comunicação de curta distância entre dispositivos de diferentes marcas. O resto da história vocês conhecem… Depois dos fones de ouvido, vieram os celulares, computadores, tablets, as famosas caixinhas de som, rádios automotivos e muitos outros equipamentos.

Mas por que Bluetooth?

Durante o desenvolvimento dessa tecnologia, dois dos engenheiros responsáveis tiveram uma conversa em um bar sobre um rei viking da Dinamarca que foi responsável por unificar as tribos dos reinos nórdicos, que hoje correspondem ao que é a Noruega e a Dinamarca. Harald Blåtand tinha um dente azulado, provavelmente por algum problema dentário e por isso o chamavam de dente azul, Bluetooth ou Blåtand no idioma local.

Rei Harald Blåtand – Fonte: Orf3us

Essa história tem muito a ver com a tecnologia, pois como já dissemos antes, seu objetivo era fazer com que dois dispositivos de fabricantes diferentes pudessem se unir em um mesmo canal de comunicação.

O logotipo Bluetooth, é uma sobreposição de duas runas das iniciais do Rei Harald Blåtand: (ᚼ, Hagall) e (ᛒ, Bjarkan). O curioso é que esse nome não era o oficial no início. Mas pela falta de encontrarem outro, ele foi pegando e acabou ficando!

O famoso símbolo do protocolo Bluetooth – Fonte: Felipe Freitas/Canaltech

Um pouco de Tecniquês…

Estima-se que o Bluetooth possa ter um alcance de até 240 metros em campo aberto, porém em ambientes com muitos obstáculos sua performance não é boa depois de alguns metros de distância. Seu requerimento de funcionamento é praticamente ter uma visada direta entre os dois pontos, ou seja, sem obstáculos no meio do caminho.

O Bluetooth funciona na faixa de 2,4GHz – espectro não licenciado nos blocos de frequência de 2,402 a 2,480 GHz, ou 2,400 a 2,4835 GHz. Sua velocidade de transmissão de dados pode atingir idealmente 2 Mbits por segundo, mas taxas de até 1 Mbit são realmente factíveis.

Algumas aplicações de uso

Além daquelas que falamos acima, usadas na comunicação entre dispositivos pessoais de diversas marcas, o bluetooth desempenha um papel bastante importante como tecnologia de comunicação. Uma das variantes desse padrão é o Bluetooth Low Energy ou BLE que como o próprio nome já diz tem na economia de energia uma grande vantagem em seu uso.

Acho que aqui cabe um parêntesis sobre economia de energia. Se muitos pensam nesse gasto menor como apenas economia na fatura de energia, há outro motivo tão importante quanto esse por trás dessa economia: o aumento no tempo de troca da bateria do dispositivo.

Pense num produtor rural com uma fazenda de milhares de hectares tendo que se deslocar 2 ou 3 vezes por ano apenas para trocar a bateria de seus sensores. Ou até em uma indústria siderúrgica que posiciona esses sensores bluetooth em áreas críticas que só em tempo de parada para manutenção é possível chegar até o sensor.

Um dos principais usos de bluetooth é para o rastreamento, seja ele de pessoas, animais ou até equipamentos principalmente em ambientes confinados. Imagine saber em tempo real onde está aquele gado que estava doente até semana passada dentre centenas deles em uma área de confinamento. Outro uso é rastrear pessoas trabalhando em área de risco. Se um acidente acontece, é mais fácil saber quantas pessoas estavam naquele ambiente e qual era a sua última localização.

Pulseira e antena Bluetooth para rastreamento de pessoas – Fonte: Nordicsemi

Por fim, podemos usar bluetooth para auxiliar as concessionárias a fazerem a leitura do consumo de água, gás e energia. Com bluetooth, o leiturista pode fazer um “walk by” passando pela rua e coletando as medições, muitas vezes sem incomodar os moradores para obtê-las, ou perdendo tempo parando a cada medidor para fazer o registro manualmente.

Walky By fazendo leitura dos relógios de consumo. Fonte: routesmart

Matou a curiosidade sobre o nome Bluetooth ou já conhecia?

Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Diretor Especialista de Prática na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas. 

Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como LinkedIn Top Voice de Tecnologia & Inovação. 

Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.

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