Qual o futuro do Wi-Fi vs. 5G?

Será que vamos começar esse artigo com mais uma polarização nesse mundo do “nós contra eles”? Redes celulares e Wi-Fi, que dilema meus amigos…

Nas minhas recentes andanças por clientes grandes industriais, quando começamos a falar de conectividade em suas organizações nos ambientes produtivos e fora do escritório é inevitável falar de Wi-Fi, 4G, 5G e redes privadas.

Mais de uma vez quando entramos no tema rede privada celular, ouço do cliente: “Periquito, então é pra eu jogar a minha rede Wi-Fi fora e instalar uma rede privada 4G/5G?” A resposta é sempre não. Para ser breve e não acabar com o artigo no terceiro parágrafo, vou apenas reforçar que cada rede tem os casos de uso adequados para uso então não é pra jogar nada fora!

A importância do Wi-Fi nesse jogo…

No momento em que estamos frente ao recente leilão de espectro no Brasil e em outros países o 5G, à primeira vista pode parecer a tecnologia emergente a ser adotada mas engana-se aquele que acha que ela endereçará 100% das necessidades de conectividade.

Apenas para começar, você sabia que do tráfego de internet sem fio globalmente, vários analistas estimam que o Wi-Fi “carrega” de 80 a 88% do tráfego total e somente 12% passa pelas redes celulares? É meus amigos, o Wi-Fi de patinho feio não tem nada!

O Presente e o Passado: coexistência do Wi-Fi 4 e o 4G (LTE)

O cenário mais comum hoje de encontrarmos nessas duas redes é o Wi-Fi 4, ou 802.11n – introduzido no mercado em 2009 e o 4G, ou LTE que começou a ser implantado no Brasil em 2013.

Em termos de banda, os dois tem uma questão técnica, pois ocupam espectros adjacentes e se filtros não forem aplicados de maneira adequada podem causar interferência cruzada:

Espectro 4G e Wi-Fi 4 – Fonte: Electronic Design

Aqui, enquanto o Wi-Fi 4 oferece velocidades de até 600 Mbps o 4G já chegava em 1Gbps. Interferências dentro do WiFi em 2,4GHz nem se fala: telefones fixos sem fio, controle remoto de portões de garagem, brinquedos com controle remoto e até a rede Wi-Fi do vizinho.

Clique aqui e siga meu perfil no Instagram para acompanhar dicas diárias sobre tecnologia, gestão de pessoas e bike

Essa interferência melhorou bastante com a introdução do Wi-Fi 5 operando em 5GHz – bem longe das redes celulares e outras interferências. Mas até hoje há uma predominância do 2,4GHz.

Na prática para os usuários, sempre que o aparelho encontra uma rede Wi-Fi conhecida ele alterna a conexão da rede celular dando preferência ao Wi-Fi. As operadoras implantaram suas redes Wi-Fi nos grandes centros para fazer offloading do tráfego, porém como na maioria das vezes exige intervenção manual, a experiência do usuário fica comprometida.

Já dentro no mundo corporativo, o Wi-Fi também avançou a passos largos, mas por outro motivo: a falta de concorrência. Sem um cenário claro de redes privadas 4G, soluções específicas de redes privadas, uma abundância de devices prontos para Wifi 2,4 e 5 GHz, e por estar muitas vezes em áreas remotas sem interferência direta de sistemas adjacentes, a penetração na indústria ocorreu sem nenhuma concorrência.

E o que muda com o Wi-Fi 6/6E e o 5G?

Tudo! O salto tecnológico que o Wi-Fi e as redes celulares tiveram nessa troca de gerações foi muito grande. Veja o quadro abaixo:

Diferenças entre Wi-Fi e Redes Móveis – Fonte: STL Partners

Nas redes públicas, o offloading das redes móveis para as redes celulares para assinantes de serviços de telecomunicações continuará existindo e com a crescente performance do 5G e o incremento das franquias dos planos de dados, pode haver uma mudança nesse 80/20% em favor do Wi-Fi.

Para a indústria, mesmo com toda essa aparente evolução, vamos seguir observando a coexistência dos dois padrões dentro dos ambientes fabris, cada um atendendo os casos de uso mais adequados para funcionar nas respectivas redes. Entretanto, da mesma maneira que nas redes móveis públicas, nas redes privadas também teremos devices com rádio Wi-Fi e 5G ao mesmo tempo, o que pode fazer com que o offloading aconteça de maneira semelhante.

O que nos espera no futuro?

O Release 16 do 3GPP – que organiza as normas evolutivas das redes celulares desde o 3G, trouxe uma feature chamada ATSSS que pode mudar a relação entre ambas as redes. ATSSS significa Access Traffic Steering, Switching, and Splitting e pode ser o Santo Graal para o offloading de redes móveis como diz a Aptilo.

Essa tecnologia permite, entre 5G e WiFi, selecionar a melhor rede (Steering), alternar entre elas (Switching) ou simplesmente usar ambas ao mesmo tempo (Splitting):

ATSSS e seus modos de operação – Fonte: 3G4G

Apesar de estar regulamentada pelo 3GPP, os casos existentes são testes e ainda não ha implantação com escala comercial dessa solução. Um dos impeditivos pode ser a disponibilidade de redes 5G pois o ATSSS para funcionar precisa de um core 5G para controlar as sessões e aplicar as políticas remotamente nos celulares dizendo como e quando cada um dos “3S” formadores da tecnologia podem operar.

Estima-se que entre 2-3 anos devamos atingir o ciclo de maturidade de ATSSS. A expectativa é grande, pois endereça uma necessidade tanto dos assinantes de serviços públicos de telecomunicações – que podem manter seu serviço de voz e dados mesmo se estiverem em uma área sem cobertura celular, porém com internet; quanto as redes instaladas na indústria, que para equipamentos que possuam rádios com ambas tecnologias possam ter sua área de cobertura expandida pela complementaridade das redes.

Enquanto isso não acontece, sigamos olhando para as aplicações e dimensionando-as para as redes que se adequem mais a cada caso de uso. Para avançar nessa linha um especialista em conectividade e indústria é essencial, concorda?

Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Associate Partner na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas. 

Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia.

Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos incluindo o cicloturismo.

Artigos relacionados:

Bibliografia:

Continue me acompanhando no meu Instagram.