4 segmentos onde IoT e constelações satelitais podem fazer a diferença em áreas remotas

Essa semana foi anunciada a assinatura de um memorando de entendimento entre a TIM e a AST SpaceMobile para fornecimento de banda larga móvel 4G por meio de uma conexão via satélite.

A repercussão do post que compartilhei contando um pouco mais sobre essa notícia foi bastante relevante: 13.500 visualizações, 90% delas de pessoas que não estão ligadas ao mercado de telecomunicações. Parece que tem muita interessada nesse tipo de solução.

No post, fiz um breve comentário sobre possíveis aplicações: “As possibilidades com essa expansão de cobertura em áreas remotas são infinitas! Agro, rastreamento de cargas, indústria, educação, saúde…”

Pensando um pouco mais no tema, resolvi compartilhar nesse artigo algumas aplicações práticas que podem se beneficiar desse tipo de rede pensando em soluções IoT somente – que por si só pode ser um grande benefício para quem não tem conexão alguma em áreas remotas.

Uma ressalva: alguns podem olhar para esses casos e questionar se uma rede vSAT com conexão a satélites geoestacionários a 37 mil km de altitude, já não endereçaria a necessidade de conexão. Neste artigo estamos falando de constelações de satélites de órbita baixa (600 – 1200km) que podem habilitar soluções que usem IoT e características do sistema diferentes:

  • Antenas compactas;
  • Baixo consumo de energia;
  • Envio e eventual recebimento de pacotes de informação pequenos;
  • Não há necessidade de um link dedicado. O equipamento “desperta” e envia os dados segundo a parametrização que recebeu.

A soma dos pontos acima resulta em um sistema mais simples e barato de operar. Veja também o artigo: Por que 5G e Satélites formam uma boa dupla?

1 – Monitoramento Ambiental

Há uma infinidade de parâmetros que podemos monitorar relacionados ao meio-ambiente: temperatura, pressão, direção e velocidade do vento, luminosidade solar, etc. Porém, trago aqui um exemplo que pode ser muito importante para muitos de nós, especialmente durante o verão, o monitoramento do nível dos rios.

Já fazemos esse monitoramento em diversos deles, a transmissão de dados via satélites de órbita baixa pode complementar esse ecossistema e ajudar na predição de enchentes e até um melhor planejamento no armazenamento de água nas represas com barragens e usinas hidroelétricas.

Veja na figura abaixo um medidor de vazão IoT – provavelmente usando ultrassom que pode ficar adormecido por horas, enviando, por exemplo, uma medição por dia, ou a partir de um trigger, enviar a cada 10 minutos.

Medidor de vazão em um rio – Fonte: Bob Hammell via hackster.io

2 – Agro

Na mesma linha do meio-ambiente, no Agro podemos medir uma infinidade de parâmetros tanto na agricultura quanto na pecuária. Monitoramento de pragas, geolocalização de animais são apenas alguns exemplos do que podemos ter acesso a dados remotamente.

Para seguir falando de água, um tema chave em qualquer cultura é a irrigação. A motivação pode ser tanto para economizar água quanto para irrigar a plantação com a quantidade de água correta e assim obter um desempenho ideal.

A informação da umidade do solo pode, por exemplo, acionar a irrigação de um determinado setor e outro não. Tais decisões podem ser tomadas na ponta sem necessidade de serem interpretadas em um datacenter remoto. É o tal do edge computing funcionando!

Medição de umidade – Fonte: IoT News

3 – Geração de energia e extração de petróleo e gás

Sistemas energéticos trazem uma grande complexidade embarcada, pois envolvem diversos equipamentos para o sucesso da operação. Muitos desses sistemas estão localizados em locais de difícil acesso no mar ou em regiões remotas do continente.

Plataformas de petróleo tem um gasto bastante relevante em se conectar a terra firme via um cabo submarino. Quem sabe com um sistema satelital de comunicação, poderíamos ter acessos com maior disponibilidade e simplicidade na implantação?

Usinas eólicas e solares também ocupam áreas remotas e muitas vezes inabitadas. Monitorar e conhecer a performance dos sistemas de geração pode fazer toda a diferença no desempenho e até no calendário de manutenção. Eficiência operacional na veia!

Parque Eólico Renascença V em Parazinho-RN – Fonte: CGN Brasil Energy

4 – Logística e Transportes

Você pode até pensar que hoje fazemos o rastreamento dos nossos pacotes de e-commerce de uma maneira bastante satisfatória. O veículo é sempre monitorado via satélite ou 4G e pelo check-in / check-out dos pacotes neles sabemos sempre o que está acontecendo com o envio.

Sem dúvidas para nós consumidores, esse tipo de informação basta. Mas será que funciona para todos os modelos de negócio?

Envios críticos podem ter um monitoramento mais específico do que apenas o navio. Já pensou se em um lote de motocicletas uma some? Como iremos rastreá-la?

Certamente existem envios logísticos onde tanto o remetente quanto o destinatário gostariam de rastrear fragmentos de um lote, pois cada um vai para um destino diferente ou até pelo valor de cada peça. Seria esse um novo modelo de negócio?

Outro business interessante é o rastreamento de ativos que podem ser não só veículos como também ferramentas e equipamentos.

Rastreamento de ativos – Fonte: hIoTron

Será que com as redes satelitais de órbita baixa cobrindo áreas remotas, podemos ver em breve essas e outras aplicações funcionando?

Publicado originalmente em mauroperiquito.com

Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Associate Partner na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas. 

Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como Linkedin Top Voice de Tecnologia & Inovação. 

Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.

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