Será que o Legado de TI é algo que realmente queremos deixar?

Legado é uma palavra bacana… Praticamente um buzzword aqui no LinkedIn. Discutimos muito sobre o que estamos fazendo e podemos deixar para as gerações futuras.

Mas, em tecnologia, o assunto é diferente. Os equipamentos, softwares e aplicações que projetamos, implementamos e operamos podem se tornar um legado difícil de lidar ao longo do tempo, expondo organizações a riscos desnecessários.

Para não dizer que todas as organizações e suas áreas de tecnologia têm problemas com legado, vou me limitar a dizer que o tamanho disso é como um bolo com quase todas as suas fatias de preocupação com o legado. A importância desse tema não está nas agendas dos CIOs, mas também de todo o nível executivo que lida com riscos o tempo todo.

Mas o que é o legado de TI?

Aqueles que não são fluentes em tecnologiquês devem estar se perguntando o que raios legado significa em tecnologia. O legado engloba equipamentos, softwares e aplicações existentes e que não foram atualizados ao longo do tempo.

Como a roda da tecnologia não para de desenvolver novas soluções, o convívio entre o novo e o legado pode apresentar uma série de problemas que vamos ver por aqui.

Por que atualizar seu parque tecnológico?

Há uma série de fatores que motivam a atuação na eliminação do legado:

  • Exposição a riscos cibernéticos: tecnologia criada anos atrás pode não estar preparada para se proteger de ataques cibernéticos que são criados e aprimorados a cada dia.

  • Falta de suporte dos fabricantes: para manterem-se competitivos e o ofertando soluções que façam sentido para o mercado, fabricantes optam por descontinuar linhas de produtos legadas e investir no mais atual. A falta de suporte pode gerar indisponibilidade de equipamentos sobressalentes ou até dificuldades de integrar com outros sistemas devido à ausência de um suporte especializado.

  • Busca por especialistas: quanto maior o ciclo de vida de uma solução, mais pessoas se capacitam nela. Porém, com o passar do tempo e o surgimento de novas tecnologias, ocorre o movimento contrário e as pessoas vão se capacitando nas novidades. No longo prazo a dificuldade de encontrar profissionais especializados em uma tecnologia específica aumenta exponencialmente.

  • Dificuldade de integração com soluções atuais: A tal da compatibilidade retroativa que observamos em sistemas fechados pode não ser verdade ao colocar soluções legadas para falar com novas. Fazer com que protocolos ou linguagens de programação diferentes se falem pode exigir um grande esforço de todos.

  • Sincronia com a estratégia da organização: o ritmo de evolução dos negócios pode esbarrar na dificuldade de integrar o legado nessa evolução e impactar os resultados. Tecnologia não pode ser uma âncora e sim um motor!

O que pode impedir essa atualização do legado?

  • Custo: pesquisas dizem que o custo de atualizar algo pode ser algumas vezes maior do que recriar do zero. Outro ponto que deve ser levado em conta é o planejamento. Ter um roadmap de atualização do legado pode evitar grandes custos de uma só vez.

  • Tempo: o engajamento dos times nessa atualização, além de “roubar” tempo de outros projetos, pode gerar discussões alongadas em arquiteturas, RFPs e implantação. O impacto do tempo permeia diversas áreas de uma organização envolvidas nesse processo.

  • Impacto: muitas vezes o legado está sustentando ambientes críticos e vitais para o negócio. Atualizações podem requerer um grande volume de janelas de parada de produção, por exemplo, para substituir o legado.

  • Conhecimento: apesar de ter tratado o tema acima, muitas vezes ao tratar de legado, nos deparamos com soluções que não tem mais uma pessoa conhecedora para dar suporte em qualquer atividade de alteração. Este risco poderia ser mitigado com intervalos mais curtos de atualização ou um processo de documentação adequado.

  • Inventário: este é um ponto curioso, pois podem ocorrer situações onde o Shadow IT atua inserindo soluções tecnológicas no meio do processo produtivo de uma organização sem o conhecimento dos departamentos responsáveis. Como atualizar algo que não se tem conhecimento de sua existência?

A solução para eliminar o legado? Na minha opinião devemos contar com dois principais pilares:

  1. Um programa contínuo de atualização tecnológica do legado com planejamento e orçamento.

  2. Ecossistema de parceiros multidisciplinares para entender o panorama atual, aconselhar com as melhores soluções para cada caso, e suportar a tomada de decisões.

E você, como tem visto as organizações lidando com o legado tecnológico? Irão deixar para as gerações futuras ou atualizarão garantindo a continuidade dos negócios?

Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Diretor Especialista de Prática na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.

Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como LinkedIn Top Voice de Tecnologia & Inovação.

Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.

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