Qual a diferença entre M2M e IoT?

Pergunta polêmica… Apesar de ter claro os conceitos de ambas tecnologias, antes de escrever esse artigo executei o ritual de sempre: pesquisei um pouco para poder validar e ampliar o meu ponto de vista.

A grande verdade é que existe uma série de respostas para essa pergunta. Uns dizem que um é a evolução do outro, que IoT é um tipo de M2M e até o contrário: que M2M é um tipo de IoT. Eu não vou cravar uma resposta dessas logo no início do artigo por dois motivos: você não vai ler o resto, e esse não é o objetivo dessa newsletter.

Então bora colocar essa visão descomplicada sobre a diferença de M2M e IoT?

Mas antes, o que é M2M?

M2M significa Machine to Machine, ou seja, comunicação máquina – máquina. Lamento desapontar aqueles que acham que isso nasceu com um produto M2M clássico, o POS, mas esse tipo de comunicação existe há muito mais tempo.

Antes de falar dos primórdios do M2M, vamos falar daquele que é o mais famoso, o POS – Point of Sale em inglês. Aquelas maquininhas clássicas de cartão de crédito, já enviavam dados para aprovação de compras de cartão de crédito via linha discada desde os anos 90. ATDT que fala?

Os mais old school vão se lembrar nas maquininhas manuais de cartão de crédito que prensavam o número dos cartões em boletos carbonados. Quem se lembrou das duas últimas coisas que eu falei é cringe!

Primeiras máquinas de cartão de crédito – Fonte: Amazon UK

Voltando aos POS, essas maquininhas tem até hoje possibilidade de processamento local de alguns dados como validar a senha mediante a leitura do chip, reconhecer tarjas magnéticas e nfc, fazer controle de estoque e imprimir recibos e totalizadores. Tudo isso se comunicando com outras máquinas para tomar algumas decisões. O POS tem alguma capacidade de processamento em seu hardware e estabelece conexões ponto a ponto com a rede das conciliadoras de cartão de crédito.

Ainda mais antigos exemplos, são as redes de supervisão e controle SCADA. Os CLPs (Controladores Lógico Programáveis – ou PLCs) possuem sensores e atuadores que obedecendo alguns parâmetros configurados em seu algoritmo local executam tarefas baseados em rotinas de algoritmos pré-estabelecidas. Esses mesmos CLPs enviam medições e alarmes para os centros de controle que também podem de maneira remota atuar no sistema, em modo manual ou automático. Em saneamento, área que trabalhei em projetos de integração IT/OT, existem muitos desses sistemas em estações de tratamento de água, de esgoto, piscinões de água pluvial, reservatórios e estações de bombeamento.

Tela de controle de um sistema SCADA em uma estação de bombeamento de água pluvial – Fonte: Wateronline

Portanto, são equipamentos mais robustos, que dependem de uma quantidade de energia considerável ao ponto de não permitir que operem com bateria por muito tempo. Outra característica é que não precisam estar conectados a internet e sim a outras máquinas.

E o IoT, como funciona?

Aqui em IoT o jogo é outro. Como é uma tecnologia mais recente, sistemas de IoT estão mais na cabeça das pessoas. IoT, ou Internet das Coisas se vale de sensores nas pontas transmitindo medições para que sistemas centralizados analizem-as em conjunto ou individualmente para a tomada de decisões.

Como são sensores e eventualmente atuadores apenas, a complexidade de construção do hardware e do software embarcado neles é bem menor, o que faz com que sejam dispositivos mais baratos e que consumam menor energia. Diferente do que falamos com os dispositivos M2M, IoT foi pensado para ter casos de uso onde a bateria dos endpoints pode durar até 10 anos!

Então em resumo, você troca processamento na borda por processamento centralizado e isso barateia consideravelmente o custo do endpoint.

Irigação usando IoT – Fonte: Easternpeak

Uma questão que eu tenho um ponto de vista diferente é uma visão de que IoT deve sempre operar com comunicação sem fio e ser alimentado por baterias. Eu diria que nem sempre é assim. Se eu tenho uma rede cabeada disponível no local, por que não usá-la?

Uma questão que realmente difere IoT de M2M é o protocolo de comunicação. Enquanto IoT é totalmente baseado em IP, no mundo de Machine to Machine a comunicação pode ser por uma interface serial, por exemplo.

Mas e a pergunta do título: Qual a diferença entre M2M e IoT?

Colocada a minha visão dos dois conceitos, chega a hora de explicar a diferença de uma maneira descomplicada. Em sistemas M2M, a comunicação entre as máquinas é ponto a ponto, ou seja, obedece uma rotina e não sai disso.

Já em IoT, o uso do protocolo IP e de uma aplicação em nuvem nos possibilita operar em um cenário de broadcast, guardadas as devidas proporções, segurança e integridade das informações. Enquanto em M2M é quase um “parto da montanha” fazer uma máquina falar com outra, diferente daquela programada originalmente, em IoT os dispositivos estão prontos para falar com não só com a aplicação original e sim com diversas que sequer podem ter sido criadas ainda.

De uma maneira muito simples tentei trazer aqui as diferenças entre esses dois tipos de solução. Você já as conhecia?

Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Diretor Especialista de Prática na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas. 

Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como LinkedIn Top Voice de Tecnologia & Inovação. 

Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.

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