E agora, vai para cloud ou volta de lá?

Rumores de mercado é tipo a rádio peão: começa aquele cochicho aqui e ali para logo chegar a todos os ouvidos. Mas quando o profissional tipo “Hardy” ouve, ele pessimista nato já começa a propagar o problema como as trombetas do apocalipse.

Se você é daqueles que entendeu quem é Hardy parabéns, você provavelmente nasceu em um mundo pré-Internet. Hardy era a hiena pessimista que fazia dupla com o leão Lippy que sempre teve uma visão mais otimista do mundo.

Hardy e sua frase tradicional – Fonte: Hanna Barbera

Voltando aos rumores, um que circula por aí é sobre um movimento de organizações que migraram seus workloads para cloud e estão migrando de volta para on-premises. Os amigos do tipo “Hardy” colocam tudo no mesmo balde e repetem o tempo todo que eles tinham razão em não migrar nada para cloud, pois sabiam que iria dar errado.

Mas como eu e o Tech Talks – esta newsletter somos do tipo “Lippy o leão”, nós responderemos da mesma maneira que no desenho:

Calma Hardy! (Lippy, o leão!)

Bora desmistificar um pouco essa movimentação para Cloud?

O Gênesis das migrações para Cloud

Quando tudo era mato nesse mundo de cloud computing eu estive dos dois lados da mesa: ora como cliente e ora como fornecedor.

Na posição de responsável pela infraestrutura de TI em uma organização fui bombardeado por fornecedores com as vantagens de ir para cloud:

  • Economia financeira

  • Escalabilidade sob demanda

  • Velocidade na disponibilização de novos ambientes ou serviços

  • Redução dos ativos

  • Fim da preocupação com atualização de hardware e patches

  • Maior disponibilidade do ambiente

  • Flexibilidade de localização geográfica

  • Menor consumo de energia

  • e muitos outros…

Antes que alguém me metralhe dizendo que sou contra cloud, coloco aqui a minha ressalva: todos os argumentos acima são verdadeiros. Mas para serem atingidos ao ponto de fazerem diferença em um business case, há uma série de requisitos a serem atendidos e riscos por mitigar.

Na época tomei uma decisão conservadora e ao invés de migrar tudo a toque de caixa, promovi um lift and shift da infra para um datacenter, passamos por um programa forte de modernização decidindo por substituir uma boa parte do legado por aplicações de mercado SaaS novas ou adicionando módulos e regras de negócio ao que já usávamos. Um ano depois estávamos indo para cloud mantendo uma infraestrutura mínima com uma parte legada prestes a ser desligada.

Esta jornada foi uma aventura, mas terminou bem. O climax de adrenalina do processo foi ver nosso parque de máquinas passear de caminhão em um final de semana, sem uma estrutura de DR. Isso me deixou vários dias sem dormir.

Tempos depois, já vestido da persona de fornecedor, passei a ser aquele que um dia eu temi: o consultor que buscava convencer seus clientes a avançarem em suas jornadas para cloud. Sempre em uma abordagem customizada e considerando a realidade de cada cliente e seu ecossistema de aplicações, era frequentemente questionado por que nossas jornadas não poderiam ser feitas em poucas semanas, no máximo alguns meses como alguns concorrentes ofertavam.

Relembrando dos amigos tipo “Hardy” que encontramos no mercado, me arrisco a dizer que as histórias que eles ouviram e fazem questão de propagar sobre “Cloud, o Retorno” cruzaram o caminho dessas migrações tipo sprint.

Mas não desanimem, este não é o fim da cloud e sim parte de um caminho sem volta. Enquanto estamos aqui discutindo se vai ou se volta de cloud, você lê o meu artigo escrito numa rede social hospedado em alguma cloud pública do mundo – o que no caso do LinkedIn é fácil de adivinhar qual é, conectado via um provedor de internet que provavelmente ainda faz a autenticação da sua sessão, controle de velocidade, latência e faturamento em sua infraestrutura on premises.

Há vários aspectos que devemos levar em conta para ir ou não para cloud.

Alguns deles dizem respeito a segurança, pois há informações estratégicas que estão mais seguras dentro das organizações. Ainda falando nesse tema, outras informações precisam ter uma disponibilidade tão elevada que precisam estar replicadas em datacenters sincronizados, porém geograficamente dispersos.

Também tem a questão da latência que quando é crítica exige a aplicação rodando no mesmo ambiente que os sensores ou atuadores. Está aí a definição de edge computing em uma frase.

Por outro lado, negócios que passam por sazonalidade como fechamentos mensais, trimestrais, etc. ou datas específicas de alto volume de vendas precisam da flexibilidade que só um “pulmão” compartilhado podem te oferecer.

E existem aquelas aplicações que não foram feitas para cloud devido a seu alto nível de interdependência de outras aplicações. Se o “recorte” de aplicações a serem migrados para cloud não for bem planejado, os custos finais podem ser bem mais elevados que os originais.

E você, o que acha: vai pra cloud ou volta de lá?

Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Diretor Especialista de Prática na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.

Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia. Fui eleito no final de 2022 como LinkedIn Top Voice de Tecnologia & Inovação.

Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.

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