Um ano do 5G no Brasil! 📡📱No dia 5/11/21, uma manhã de sexta-feira, terminou o leilão do espectro destinado ao 5G, que foi o segundo maior da história do Brasil, com uma arrecadação de R$ 7 bi e R$ 46,8 bi movimentados. O ágio médio foi de 237% – o que indica o nível da competitividade que tivemos. Maior do que esse, apenas o do pré-sal.
Falando em leilões de espectro de frequências, além de ter sido o maior da história do Brasil (7 vezes mais rentável que o do 4G), está sendo considerado por alguns analistas o maior do mundo.
Todas as 15 empresas cadastradas deram lances, e cinco novas operadoras entraram mercado com outorgas em faixas regionais e nacionais: Winity Telecom, Brisanet, Consórcio 5G Sul, Neko e Cloud2u.
Panorama dos vencedores do leilão – Fonte: Valor.com
Tivemos avanços bastante significativos e o objetivo desse artigo é repassar um pouco do que aconteceu ao longo desse ano de desafios e feitos.
1 – Só um ano mesmo de 5G?
A resposta depende… Se considerarmos o 5G SA (Standalone) objeto do leilão e chamado de 5G puro, sim temos um ano do leilão e 4 meses da primeira ativação em Brasília – 06/07. Nessa tecnologia, Brasil foi o primeiro país da América Latina a implantar.
Já se formos considerar também o padrão 5G NSA que já estava em operação antes do leilão, ele foi habilitado no Brasil em julho de 2020. Considerando a América Latina, fomos o terceiro a ter rede ativada pois o Uruguai (abr/2019) e Suriname (dez/2019) já tinham habilitado 5G NSA.
2 – Se o leilão aconteceu em novembro de 2021 porque as redes só começaram a operar em julho de 2021?
Há uma questão importante no que diz respeito a banda escolhida para a operação do 5G: ela já está em uso por outra tecnologia de transmissão – o sistema TVRO (do inglês “Television Receive Only”), o nome técnico da transmissão de canais de TV parabólica.
Espectro de frequências 5G SA – Fonte: Arquivo Pessoal
Veja na figura acima a representação do espectro de frequências alocado para o 5G comparado com o serviço de TV via parabólica na banda C estendida. Note que há uma intersecção com as faixas das operadoras regionais do SMP (Serviço Móvel Pessoal) e com o SLP (Serviço Limitado Privado) – que é dedicado às redes 5G privadas.
Portanto, a solução foi “limpar” o espectro propondo a migração dos canais que transmitem na banda c estendida para a banda Ku. Tal operação deve acontecer com cerca de 118 canais e outros novos 92 devem ser criados já na nova banda.
O impacto dessa mudança é a adequação dos receptores e antenas parabólicas domésticas trocando aqueles que não tem capacidade de operar na banda ku. Para os cerca de 9 milhões de domicílios inscritos no Cadastro Único de Programas Sociais do Governo, os kits serão fornecidos gratuitamente e subsidiados pelas operadoras, a um investimento de R$ 3bi no total. Os demais terão que adquirir a um custo de cerca de R$ 300.
3 – O que é uma rede privada?
Desde a adoção do 4G, os órgãos reguladores vêm destinando faixas do espectro a serem ocupadas por sistemas de rede celular privada. Essas redes podem ser de grande valia para a indústria, o agronegócio e o setor de serviços em geral.
Algumas vantagens em ter esse tipo de rede:
- Alta qualidade de serviço;
- Rede dedicada, com recursos próprios e com gestão independente das operadoras;
- Segurança com nível de redes celulares. Como não há exposição externa, os dados confidenciais permanecem dentro da organização;
- Desempenho otimizado considerando os casos de uso necessários: baixa latência, prioridade de tráfego, alta velocidade, densidade de dispositivos, etc;
- Resposta a incidentes e falhas gerida diretamente pela organização, o que pode abreviar o tempo de reestabelecimento do serviço.
4 – Regulamentação das redes privadas
Quando o ato Ato nº 8.991/2022 ainda era uma consulta pública (30/2021), descrevi algumas dessas características no artigo”Quais os requisitos técnicos para ativar uma rede 5G privada?“, porém em resumo há alguns cuidados a serem tomados:
- Para estações outdoor, as antenas não podem ficar a mais do que 6 metros do solo;
- A potência máxima irradiada será de 30 dbm Indoor e 26 dbm Outdoor;
- 400 metros de distância entre a borda de cobertura e estações terrenas que operem entre 3,8 e 4,2 GHz. Isso se deve ao cuidado principalmente com os radares altimétricos que abordamos no artigo: “É possível o 5G interferir nos radares altimétricos dos aviões?“.
Há uma série de outros requisitos descritos no ato da ANATEL prevendo inclusive a instalação de sincronismo para mitigar a interferência de sistemas muito próximos. Essas normas possibilitam a instalação segura de sistemas diferentes em unidades fabris vizinhas, por exemplo.
5 – Como anda o avanço da cobertura 5G no Brasil?
Depois de todas as capitais cobertas – marco atingido em 07/10, 6,6 mil antenas ativadas (façam as contas do ritmo de implantação em 1 ano!) e as cidades acima de 500 mil habitantes na mira, o 5G é realidade para uma parcela importante da população. Veja no infográfico abaixo do craque José Felipe Ruppenthal um resumo sobre a implantação nesse ano:
Veja que os acessos NSA, provavelmente em terminais que eram compatíveis também com o 5G SA migraram de uma tecnologia para a outra gradualmente. Quanto a cobertura, ainda temos o desafio de capacitar as demais 93 mil Estações Rádio Base – ERBs com a tecnologia 5G e crescer esse número em algumas vezes para prover a mesma cobertura do 4G/3G/2G, porém com a performance do 5G. Será que chegaremos a 500 mil antenas?
6 – O que vem por aí?
Apesar do cronograma do edital prever implantações de 5G nos municípios gradualmente até 2029, como já discutimos anteriormente, a demanda do mercado por conectividade está antecipando esse cronograma.
Tivemos duas ações bem relevantes na expansão da cobertura do 5G:
- A autorização para a limpeza do espectro nas cidades com população maior do que 500 mil habitantes, possibilitando uma antecipação de cobertura que estava para 2025 no edital. Os municípios com mais de 500 mil habitantes são: Feira de Santana – BA, Juiz de Fora – MG, Campinas – SP, Sorocaba – SP, Guarulhos – SP, Uberlândia – MG, Londrina – PR, Campos dos Goytacazes – RJ, Caxias do Sul – RS, Joinville – SC, Ribeirão Preto – SP e São José dos Campos – SP
- Ampliar essa limpeza para as cidades localizadas nas regiões metropolitanas das capitais e dos municípios com mais de 500 mil habitantes. Com essa fase 505 municípios podem ser beneficiados. Cidades como Guarulhos – SP, ABCD Paulista e Niterói – RJ entraram nesse bloco.
Veja nessa matéria a lista completa de cidades.
O que achou dos avanços nesse primeiro ano de 5G?
Sou Mauro Periquito, Engenheiro de Telecomunicações e Associate Partner na Kyndryl, onde desenvolvo e gerencio projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em minha trajetória profissional tenho como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.
Também atuo em outras frentes como mentor, palestrante, conselheiro consultivo e escrevo diariamente no LinkedIn sobre gestão de pessoas, carreira, inovação e tecnologia, com a missão de trazer uma visão descomplicada sobre a tecnologia.
Durante minha carreira trabalhei em multinacionais no Brasil, países da América Latina, Espanha, Porto Rico, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Em meu tempo livre, sou um grande entusiasta do ciclismo em seus diversos modos, incluindo o cicloturismo.
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